segunda-feira, 18 de maio de 2020

Taylorismo Digital: Nova gestão

Autor: Marcelo Costa Filho (1)
Orientador: Professora Monica de Farias Mascarenhas e Lemos (2)

Um assunto de introdução ao curso de administração é a Administração Científica e seus princípios, iniciada por Frederick Taylor no início do século XX. Algumas das inspirações do Taylorismo foram baseadas em necessidades: de economizar tempo para as organizações; de treinamento para os funcionários; e, principalmente, de aumento de produção. Ao atender essas demandas, Taylor revolucionou e ajudou muitas organizações.

Essa época é lembrada, principalmente, pela falta de consideração pelo trabalhador que era exposto a jornadas exaustivas, a minutos de intervalo para alimentação (ao lado das máquinas) e econômicas idas ao banheiro. Uma das principais características também era a supervisão cerrada em cima dos funcionários, desde o momento em que entravam nas fábricas até o momento de irem embora. Além de termos a gestão absoluta dos “senhores da empresa”, que eram os responsáveis pelas tais supervisões e eram indispensáveis na administração das organizações.

Atualmente vemos todos esses princípios aplicados em várias empresas, mas um deles teve uma acelerada mudança: essa gestão absoluta dos “senhores da empresa”.

Não é difícil encontrar exemplos de gestão científica, aquela iniciada por Taylor, no mundo moderno. Podemos ver a indústria automobilística que usa uma abordagem semelhante, bem como as fábricas de computadores e até mesmo alguns hospitais. Hoje, empresas são mundialmente famosas justamente pelos seus métodos operacionalizados à luz da Administração Científica, contudo, um pouco mais humanizadas.

Antes, todos os funcionários no chão de fábrica, que colocavam a mão na massa, eram tratados como meras peças de uma grande máquina, e os antigos gestores, chamados aqui de “senhores das empresas”, supervisionavam os trabalhadores nos horários e tarefas, tentando sempre se manterem no poder e tendo liberdade de mexer com seus grupos de trabalho caso seu setor não mostrasse bons resultados. Eles, juntamente com os demais trabalhadores, também passaram a ser meras peças dessa imensa máquina, que mais recentemente passou a contar com grande carga tecnológica, essa é a característica chave do termo citado - Taylorismo Digital.

O Taylorismo Digital foi citado nos últimos anos por artigos e jornais norte-americanos, mostrando que, com o avanço da tecnologia, o antigo cronômetro que Taylor usava para controlar o dia a dia dos trabalhadores, agora está muito mais avançado, de maneira implícita e tecnológica. O fato de que os trabalhadores são estritamente supervisionados nunca foi uma novidade, porém, agora esse método de supervisão tecnológica mede também o dia a dia dos gestores, controlando suas funções e garantindo que estão usando as ferramentas disponíveis da maneira correta, de certa forma, ainda padronizadas. Essas medições geralmente são feitas com base nos KPIs (Key Performance Indicator, que significa indicador-chave de Desempenho), que é utilizado para medir o desempenho dos processos dentro da empresa e, consequentemente, o desempenho dos funcionários. 

Assim sendo, nesse mundo corporativo moderno, se meu gestor não faz o trabalho corretamente, simplesmente será substituído por alguém capaz de fazê-lo. Os motivos de desligamento são diversos, contudo também podem ser voltados para escândalos gerados na mídia, o que afeta a marca da empresa, consequentemente diminuindo o valor das ações. Portanto, os gestores devem além de mostrar bons resultados, manter uma boa imagem pública, tanto deles quando da organização.

Isso se torna verdade ao vermos alguns casos de demissão ou de afastamento de CEOs de algumas empresas mundialmente famosas, justamente por não estarem trazendo bons resultados aos investidores ou aos sócios. Segundo a Forbes, em 2017, Travis Kalanick, criador da Uber, por mais que no passado tenha revolucionado o mercado para a marca, ampliando o mercado e instaurando-a em outros países, foi afastado do comando da companhia. A justificativa centrou-se no desgaste entre ele e os investidores, pela falta de resultados positivos nas operações e outros escândalos em que estava envolvido.

Dados da Infomoney indicam que, em 2018, 18% de presidentes de empresas foram substituídos por resultados insatisfatórios, e pouco menos da metade por falta de ética, pois estavam envolvidos em escândalos de todos os tipos, abuso de autoridade, dentre outros comportamentos execrados pelos valores éticos e morais.

Acredito que, como essa ideia de gestão absoluta, outras ideias de Taylor irão se transformar ao longo do tempo, chegando até a desaparecer, ainda mais com o avanço da tecnologia, onde não teremos mais que vigiar o trabalho, pois será feito por máquinas programadas, e isso já está avançando de maneira bem rápida. Hoje, a tecnologia avançada é utilizada por grandes empresas, como vemos na Amazon, com seus robôs Kiva, que automatizam toda a movimentação de cargas dentro dos Centros de Distribuição. Mas o que sabemos é que as empresas precisam de líderes capazes de elevar a imagem da empresa, mostrando bons resultados e bom comportamento ético com os funcionários, e que aquele antigo “senhor da empresa”, que antes comandava e era insubstituível, não existe mais.

Com os casos de afastamentos e demissões citados aqui e incontáveis outros que vemos atualmente, concluímos que o Taylorismo Digital excedeu as expectativas do século passado e acabou dando um novo exemplo de gestão para as organizações. Agora, nenhuma gestão é absoluta, os gestores estão na corda bamba o tempo todo, basta um deslize que venha a comprometer a imagem da empresa para que caiam.

O Taylorismo Digital, pelo fato de estar sempre de olho em todos os funcionários por meio de indicadores, acaba gerando certo receio nos funcionários e gestores de usarem a criatividade, pelo fato de saberem que se algo ficar abaixo do padrão de excelência requerido pelos donos, podem ser substituídos facilmente.



(1) Marcelo Costa Filho é aluno do módulo E do curso de administração do Unicuritiba. Também é monitor da disciplina de Fundamentos da Administração e essa é sua primeira contribuição para o blog do nosso curso.

(2) Monica de Farias Mascarenhas e Lemos, é Professora e Coordenadora do Curso de Administração de Empresas do Unicuritiba.

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