segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Sobre a queda da SELIC e o Brasil Suíça - Henri Siro Evrard

Por Henri Siro Evrard


É, meus caros. Quem diria. O Novo Brasil agora virou a Suíça de 10 anos atrás. Já até dá para sentir o cheiro das vaquinhas leiteiras, do chocolate e escutar o tic tac dos relógios. Enquanto estamos vendo nossos juros em níveis recordes de baixa, por estarmos flutuando a uns 2% ou 3% acima da inflação, na Suíça atual os juros estão no abismo oceânico, ao redor de -0,75% ao ano, para os próximos 10 anos. Então, se nós viramos o que a Suíça já foi a 10 anos atrás, agora a Suíça já não é mais aquela Suíça.... é a Nova Suíça.... Uau! Enquanto o Novo Brasil pratica taxas que diríamos dignas do primeiro mundo de uma década atrás, o primeiro mundo de agora já é muito diferente do primeiro mundo de outrora... quem raios aplica dinheiro para perder -0,75% ao ano?? Talvez alienígenas, e, com certeza, aqueles que investem dinheiro na Suíça de hoje.

Taxa de juros Suíça para títulos de 10 anos

Enquanto no Novo Brasil é igual a Velha Suíça, e a Nova Suíça é digna de teorias alienígenas. O que torna o Brasil digno de ser comparado com a Velha Suíça não são as mesmas coisas que faziam a Suíça ser o que era quando era a Velha Suíça .

A Suíça tem visto crescimento do PIB não muito robusto já faz tempo, mas a estrutura inflacionária e desenvolvimento econômico é muito diferente.

Crescimento Suíça

Crescimento Brasil

Seja como for, os juros da Velha Suíça e da Nova Suíça se justificavam por taxas de inflaçao históricas muito baixas. Com picos sazonais de incríveis e horríveis 3%!! Quem é consegue viver com uma inflação assim??? (contém ironia). Mas o medo predominante na Suíça Velha e Suíça Nova, é uma coisa que a gente, brasileiro, nem sonha que poderia ser um problema... a deflação.

Inflação Suíça

Imagina que você acorda, naquela segunda-feira horrível. Um pé atravessado atrás do outro, te dá uma coceira nas costas que a mão não consegue alcançar, ao ir para o banheiro você topa o dedão na porta, desliza no box, troca a pasta de dente por espuma de barbear... desgraça completa... aí você pensa nas tuas finanças, e aí, sim, a coisa fecha com chave de ouro digna de um velório. Ao formular o seu problema financeiro, você pensa nele mais ou menos assim: "será que eu vou ter dinheiro para comprar o que eu quero/preciso?". É caos. Vende o almoço pra comprar o jantar. Problema digno e comum de um monte de brasileiro que já acha isso aí tudo, da coceira nas costas ao parcelamente das casas Bahia, coisas da vida como é.

Agora imagina esse mesmo problema para um Suíço (tanto na Velha quanto na Nova Suíça). O dia também é péssimo. Acorda atravessado. Topa o dedão na porta, coça as costas num lugar que não tem como alcançar, tudo do jeitinho ruim de ser. Até aí tudo igual ao brasuca... mas aí ele lembra das suas finanças. O problema que ele irá formular na sua cabeça de Suíço, ao comparar os países, ficaria mais ou menos assim: "será que eu vou querer comprar as coisas com o dinheiro que eu tenho?". É... é mais ou menos essa comparação que a gente pode fazer entre os países. Enquanto um não vai pra frente porque não tem as condições, o outro já está tão farto, que não precisa mais avançar. Ambos não vão para frente, mas os motivos são muito diferentes. E isso vale tanto para a Nova Suíça quanto para a Velha Suíça. Mesmo quando compararmos com a Velha Suíça dos juros de 3% e o Novo Brasil dos juros reais de 3%, temos um abismo de disparidade.

A grande disparidade é que os juros baixos na Suíça e nos demais países desenvolvidos é o resultado de um crescimento econômico esgotado, já amplamente explorado, no limite do seu desenvolvimento, e gerando um histórico consistente de ausência de inflação que os permite chegar a níveis antes nunca vistos em taxa de juros negativos. No Brasil, os juros baixos, são efeito de um potencial não realizado, de uma ausência de condições para atingir o que pode atingir, a privação daquilo que ele poderia ser, o que leva, junto à existência de um gap inflacionário que permite a queda de juros temporária.

Inflação Brasil

A queda recente da inflação do Brasil está muito ligada a ociosidade que temos da massa de trabalhadores que estão na pindaíba completa. Não estamos conseguindo sair de uma forte recessão, e há uma massa de desempregados ainda muito grande dando sopa. Isso faz com que vejamos a inflação nos níveis atuais... mas diferentemente da Suíça, quando a joça da nossa economia voltar a girar, voltaremos voltar de maneira íngreme o consumo e a inflação.

Desemprego Brasil

Já no caso da Suíça, o país já fez tudo que tem pra fazer. Todo mundo está trabalhandinho normal, as vontades básicas estão todas atendidadas de modo que o consumo está indo de vento em polpa. A pergunta que fica: e eles não tem inflação? Rá! Eis o golpe alienígena que torna eles tão diferentes do Brasil.

Desemprego na Suíça

Mesmo com o desemprego em taxas baixíssimas, a inflação Suíça tem dificuldades em aparecer. O baixo juros do país realmente é estrutural. Possíveis fontes de explicação é o aumento da produtividade vindas maciço da tecnologia, uma China que inunda o mundo com produtos barato, e de quebra, em um pensamento mais conspiratório, a concentração de renda que leva à concentração do dinheiro, reduzindo o efeito do afrouxamento monetário... seja como for, o cenário suíço é muito diferente do brasileiro. A nossa taxa de inflação baixa pode estar afetada por todas essas coisas, mas ela é coincidente com uma profunda recessão e desemprego, ou seja, com a ausência de condições de consumo, e não com sua completude, que parece ser o caso suíço.


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