quinta-feira, 7 de março de 2019

Um Pouco de Política, Economia e Crise – como elas afetam o mercado. | Prof. Semí Cavalcante de Oliveira

O Governo de Jair Bolsonaro tem apenas 2 meses de vida e já protagonizou várias “micro” crises e dá a impressão que está se esforçando ao máximo para fazer oposição a ele próprio. Mesmo porque os partidos de oposição, principalmente o Partido dos trabalhadores (PT), não estão cumprindo seu papel histórico, que é fazer oposição ao governo constituído. Uma vez que esses referidos partidos foram derrotados nas eleições presidenciais de 2018, esperava-se que eles cumprissem sua missão histórica, que é fazer oposição.
Talvez de uma forma subliminar, a oposição no Congresso ao governo Bolsonaro, tem percebido que não é necessário fazer muita coisa, já que os integrantes do governo, familiares e o próprio Presidente Jair Bolsonaro se encarrega dessa missão. Vamos analisar apenas três fatos que demonstraram que a equipe montada pelo governo não está sintonizada, além de evidenciar que é extremamente sensível a pressões externas.
1 – O caso envolvendo o Ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, o Vereador da cidade do Rio de Janeiro e filho do Presidente, Carlos Bolsonaro e o Presidente da República.
O conflito entre o Presidente Bolsonaro e o Ministro Chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, provocou inquietações entre membros do governo e a base do governo no Congresso. O episódio, que tem suas gênesis em suspeitas de financiamento de candidaturas “laranjas” pelo PSL, partido que abrigou a candidatura do Presidente Jair Bolsonaro, e discordâncias remotas entre o referido ministro e o vereador Carlos Bolsonaro. Essa crise chegou ao seu ponto de ebulição após o presidente admitir a possibilidade de Bebianno ser obrigado a deixar o governo. O Vereador e filho do Presidente, chamou o Ministro de Estado de Mentiroso, que não reflete a realidade, e teve o apoio do pai, que endossou a artimanha do filho.
 A crise ocorreu em um momento delicado, já que o governo tenta manter união para as negociações da pauta de votação mais importante no congresso, a da Reforma da Previdência. Que o governo tem chamado de a “Nova Previdência”, que segundo seus defensores, irá proporcionar aos cofres públicos uma economia de 1 trilhão de reais em 10 anos.
2 – Ministro de Estado da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, diz que errou ao pedir filmagem de crianças cantando hino sem permissão dos pais.
Mais uma “saia justa” para o Governo de Jair Bolsonaro e consequentemente mais uma “micro” crise minando as bases desse governo que já demonstrou em 2 meses de vida que não tem suas bases fincadas em terreno muito sólido. 
O Ministério da Educação enviou e-mail para escolas pedindo a leitura de uma carta do Ministro e em seguida seria executado o Hino Nacional. Os estudantes seriam filmados durante o ato. Esse fato gerou fortes críticas de parlamentares tanto oposicionistas como da base de apoio do governo, motivou uma representação desses ao Ministério Público, além de um processo de apuração pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão.
O que aconteceu foi o seguinte de acordo com a imprensa:“O Ministério da Educação (MEC) enviou um e-mail para as escolas do país pedindo a leitura de uma carta do ministro e orientando que, logo após, os responsáveis pelas escolas executassem o Hino Nacional e filmassem as crianças durante o ato. A carta é encerrada com as frases "Brasil acima de tudo" e "Deus acima de todos", que foram o slogan da campanha do presidente Jair Bolsonaro nas eleições.
 Ricardo Vélez Rodríguez, reconheceu que errou ao pedir que as escolas filmassem as crianças cantando o Hino Nacional, sem a autorização dos pais. "Eu percebi o erro, tirei essa frase, tirei a parte correspondente a filmar crianças sem a autorização dos pais. Evidentemente, se alguma coisa for publicada, será dentro da lei, com autorização dos pais".
Em uma audiência no Senado, Vélez foi arguido por senadores sobre o conteúdo da carta enviada às escolas e repetiu que se tratou de um erro. “Cantar o Hino Nacional não é constrangimento, não. É amor à pátria”, disse. E acrescentou: “O slogan de campanha foi um erro. Já tirei, reconheci, foi um engano, tirei imediatamente. E quanto à filmagem, só será divulgada com autorização da família”.
A partir dos questionamentos da senadora Eliziane Gama (PPS-MA) sobre a passagem de que a autorização da família não constava do texto original da carta, o Ministro Rodrígues respondeu que constava "como algo implícito dentro da lei”. A senadora, então, contestou: “Estava na sua cabeça. Na carta, não”.
3 – Ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro revoga nomeação de Ilona Szabó para Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária após “repercussão negativa”.....para quem e porquê? 
A Cientista Política Ilona Szabó é mestre em estudos de conflito e paz e especialista em segurança pela Universidade de Uppsala (Suécia) e é especialista em redução da violência e política de drogas. Fundadora do Instituto Igarapé, que se dedica a estudar e a elaborar propostas de políticas públicas para a redução da violência. A referida cientista atuou na ONG Viva Rio e foi uma das coordenadoras da campanha nacional de desarmamento. Certamente essa última referência em seu Curriculum foi o estopim das pressões desses segmentos da direita radical que apoia o Governo Bolsonaro. 
Constrangimento para o super Ministro Sergio Moro que ao ser convidado por Bolsonaro – que queria seguramente surfar na popularidade do então Juiz da Operação Lava Jato -  para ser o titular da pasta da Justiça e Segurança Pública (que juntamente com o Ministro da Economia Paulo Guedes) recebeu carta branca do Presidente para montar sua estrutura  no Ministério. Mas a realidade denuncia que não é bem assim. Moro foi obrigado a “desconvidar”, mediante escusas, a notória cientista gerando desconforto de ambos os lados. Se o Ministro Sergio Moro realmente tivesse coragem, aquela que demonstrou várias vezes quando era o titular da Operação Lava Jato, pediria demissão desse governo pastelão e voltaria (não sei se pode) para a magistratura federal ou para a sala de aula a fim exercer o magistério.
Esses três fatos relativamente sem importância, se comprado com os problemas graves que o Brasil apresenta e que são os maiores e mais complexos desafios desse governo. Mas que são de suma relevância, já que desnuda um governo que está de certa forma atirando nos próprios pés. Nas entrelinhas pode-se ler que esse governo ainda está perdido, sem rumo, sem direção. Por enquanto é bom “apertar os cintos, pois o piloto sumiu”. Piloto esse que, quando tentar pilotar a aeronave chamada Brasil entona mais ainda o caldo.
4 – Considerações Finais.
Parafraseando Milton Friedman que repediu inúmeras vezes “em economia não tem refeição de graça”, ou seja, se tem um Fluxo Circular da Riqueza Real, certamente haverá um Fluxo Monetário, inversamente proporcional. Ignorando o paradoxo: racionalidade econômica versus sensibilidade do mercado. Nesse sentido, se um agente econômico de peso como o governo demonstra insegurança, amadorismo e que não sabe para onde caminha, o mercado e seus diversos segmentos, tais como, Bolsa de valores, Taxa de Cambio, Mercado financeiro, Mercado de Importação e exportação, Taxa de Investimento e o Otimismo do empresariado, sentem imediatamente.
Então o governo tem que atinar que ele é a linha mestra da economia, mesmo numa economia que bebe das fontes do Liberalismo Econômico. Em especial esse governo, que tem como titular da Economia um egresso da Escola de Chicago, berço do Neoliberalismo e como Presidente do banco central o neto do bastião do liberalismo Roberto Campos. As autoridades políticas e econômica constituídas tem o dever de saber que cada gesto, cada avanço, cada recuo e as palavra que proferem, tem um peso e repercute no mercado de forma contundente e imediata.
As crises acimas citadas poderiam ter sido atalhadas e consequentemente evitado o desgaste do próprio governo. O mundo corporativo e todos os agentes econômicos, que juntos geram emprego, renda e riqueza agradeceriam. 




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