quarta-feira, 27 de maio de 2020

Algumas reflexões sobre o Mundo do Trabalho

O que se pode afirmar com propriedade é que o RH das empresas vem sendo cada vez mais desafiado a superar a um número cada vez maior de problemas decorrentes da transição pela qual passa o mundo contemporâneo. Transição essa que corresponde ao declínio da economia de base industrial e ao surgimento de uma nova ordem econômica caracterizada por um novo recurso básico: o conhecimento. Dessa forma, a Gestão de Pessoas, mais do que qualquer outro ramo da Administração, vem sofrendo esses desafios, sobretudo porque sua matéria-prima é exatamente o conhecimento.

Todas as grandes transições verificadas ao longo da história da humanidade geraram características dramáticas. A Revolução Industrial, por exemplo, reestruturou a sociedade em trabalhadores (“donos” da força de trabalho) e empresários (donos do capital), mudou o local de trabalho das pessoas e seu modo de trabalhar, transformou os sistemas educacionais e criou condições para o aparecimento de filosofias revolucionárias como o socialismo e o comunismo. A transição atual apresenta sinais bastante dramáticos, sendo o mais evidente, o desemprego.

A grande tarefa que está sendo proposta aos gestores de pessoas neste novo milênio é a de superar os grandes desafios que envolvem a atual transição. O grande desafio é o da mudança e mais mudança (Ulrich, 2000, p.39). As pessoas nas organizações devem ser capazes de aprender com rapidez e continuidade, de inovar incessantemente e de assumir novos imperativos estratégicos com maior velocidade e naturalidade.

Vejamos o quadro a seguir:



É importante ressaltar, a partir da análise do quadro acima, que os desafios ambientais são forças externas às organizações. Eles influenciam significativamente seu desempenho, mas estão em boa parte fora de seu controle. Cabe aos gestores estar permanentemente atentos ao ambiente externo tendo em vista aproveitar suas oportunidades e superar suas ameaças. O presente momento de pandemia, é um exemplo de desafio ambiental.

Por outro lado, os desafios organizacionais decorrem de problemas internos das organizações. Eles podem em boa parte ser considerados subprodutos das forças ambientais, pois nenhuma empresa opera no vácuo. As organizações, no entanto, costumam apresentar melhores condições para enfrentar esses desafios do que os determinados pelo ambiente. Gestores competentes detectam problemas dessa natureza e são capazes de lidar adequadamente com eles antes que se tornem maiores. À medida que estejam bem informados acerca das principais questões de recursos humanos e dos desafios organizacionais, esses gestores conseguem ser proativos, ou seja, capazes de tomar as providências necessárias para que o problema seja enfrentado antes que escape ao controle da organização (Gil, 2014, p.7).

Por fim, os desafios individuais referem-se às posturas adotadas pelas empresas em relação a seus empregados. Estes estão diretamente relacionados aos desafios organizacionais, constituindo, muitas vezes, reflexos do que ocorre com a empresa inteira. Convém destacar que a maneira como a empresa trata seus empregados pode afetar o impacto dos desafios organizacionais.

Segundo autores como Gil (2014), Chiavenato (2004), Gramigna (2007), os desafios individuais são os mais importantes para que uma empresa possa ser identificada no estágio de gestão de pessoas.

E aqui residem algumas inquietações:
  • Quais consequências afetam o trabalhador em um momento no qual todo o globo foi afetado pela pandemia?
  • Como o trabalhador pode refletir sobre os desafios individuais, se, no momento atual, os desafios ambientais são de primeira ordem?
  • E, se o futuro do mercado de trabalho já demonstrava inúmeras mudanças, seja em suas relações, seja na extinção de algumas profissões e no surgimento de novas, o que podemos esperar agora, neste momento de tantas incertezas?
De acordo com o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - o Brasil tinha, em fevereiro deste ano, 33,6 milhões de empregados no regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). De acordo com o Ministério da Economia, no final de abril deste ano, ao menos 1 milhão de trabalhadores ficaram aptos a solicitar o seguro-desemprego após o agravamento da pandemia.

Ainda pelo IBGE, em março (de 2019) o Brasil contava com 13,1 milhões de pessoas desempregadas. Já O IBRE FGV – Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, afirma que as demissões, suspensões de contratos ou cortes de jornada e de remuneração, entre outras medidas adotadas no mercado de trabalho, já afetaram 53,3% das famílias brasileiras. (FOLHA DE SÃO PAULO, 19/05/2020)

Os números são assustadores e mostram um cenário cada vez mais competitivo na busca pelo emprego. Diante disso, fica ainda mais claro que estudo e mercado de trabalho precisam andar lado a lado se o trabalhador quiser ter sucesso profissional em sua vida.

Possíveis saídas para esse quadro? Não são tão simples.

Conforme postula Fernando Barra, especialista em tecnologia e inovação e autor do livro "Meu Emprego Sumiu!", o trabalho do futuro não será absolutamente um "emprego", hierárquico, baseado em comando e controle, rotineiro e padronizado, mas sim, algo a ser abraçado e desfrutado.

As mudanças que estão ocorrendo graças à tecnologia e a revolução digital modificam as relações econômicas entre empresas e empregados. Novas tecnologias estão permitindo criar novos modelos de produção e prestação de serviços que extrapolam a relação já conhecida entre empregado e empregador. O fim do emprego é iminente! (Meu Emprego Sumiu”, pág. 16)

A mudança chegou para todos, em maior ou menor grau, e será exigida a adaptação em três esferas:
  • Na empresa: enquanto relação de espaço físico. Essa passa a ser um espaço muito mais de integração e de passagem de conhecimento.
  • Nos líderes: que passam a ter uma visão diferente sobre a liderança, mais do que nunca como um grande incentivador.
  • E do colaborador: este que assume um papel cada vez mais de protagonista.Como assumir esse protagonismo? Um caminho possível é refletir e construir seu planejamento de carreira. Mas esse assunto fica para outra discussão.

Apenas uma pequena provocação: Em 1963, Charles Darwin afirmava em sua "A Origem das Espécies": "Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças".











Prof. Ms Dori Luiz Tibre Santos

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1 Psicólogo e professor dos cursos de Administração e Psicologia do UNICURITIBA

REFERÊNCIAS

BARRA, Fernando. Socorro, meu emprego sumiu. Independently Published, 2019
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
FOLHA DE SÃO PAULO. Edição de 19/05/2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/05/demissoes-ja-afetam-13-das- familias-e-40-das- empresas.shtml?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=comp mail. Acesso em 19/05/2020.
GIL, Antônio Carlos. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. 6ed. São Paulo: Atlas, 2014
GRAMIGNA, Maria Rita. Modelos de competência e gestão dos talentos. São Paulo: Pearsons Prentice Hall, 2007.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2010.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2019 – Dados sobre o trabalho formal.
KIERNAN, Mathew. 11 mandamentos da administração do século XXI: o que as empresas de ponta estão fazendo para sobreviver e prosperar no turbulento mundo dos negócios da atualidade. São Paulo: Makron Books, 2008.
MARRAS. Jean Pierre. Administração de recursos humanos, do operacional ao estratégico. 5 ed. São Paulo: Futura, 2002.
MORAN, H. Desenvolvendo organizações globais. São Paulo: Futura, 1996.

ULRICH, Dave. Os campeões de recursos humanos: inovando para obter os melhores resultados. São Paulo: Futura, 1998.
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NOVAS TECNOLOGIAS E GESTÃO DE PESSOAS

       


Apresentamos nesse nosso espaço a opinião do acadêmico do 7º período do curso de administração, João Pedro Santos Carvalho, também monitor do professor Rafael Augusto Lourenço na disciplina de contabilidade gerencial e financeira






Recursos tecnológicos...... ferramentas tecnológicas...... aparelhos tecnológicos...... uma nova vida tecnológica..... A evolução da tecnologia nos últimos anos vem ocorrendo em velocidades inimagináveis. A tecnologia encontra-se enraizada em todos os setores de nossa sociedade, tais como cultura, entretenimento, financeiro, saúde, educação, transportes, etc., mudando nossas vidas e nossas maneiras de se relacionar em sociedade.

A tecnologia, cada vez mais, vem exercendo seu papel de facilitadora dos processos organizacionais, como na gestão estratégica de pessoas.

Pode-se entender tecnologia como sendo o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos empregados na produção e comercialização de bens e serviços (Longo, 1984). Corrobora Kruglianskas (1996), mencionando que tecnologia também pode ser vista como uma forma de tornar a empresa mais competitiva.

Com o aperfeiçoamento das tecnologias e a consolidação da informatização das empresas, observa-se no mercado um crescimento no lançamento de hardwares e softwares que dão suporte à gestão.

A principal promessa desses sistemas que modernizaram os processos é a garantia de facilitar e agilizar as atividades da empresa, proporcionando uma assertividade que reduz a rotatividade dos profissionais e por fim tornam toda a gestão da empresa mais eficiente. 

Peter Drucker, considerado um dos pais da administração moderna, tem uma frase fundamental para entendermos a relação entre o meio da gestão empresarial e o da tecnologia: “Inovação é atribuir novas capacidades aos recursos existentes na empresa para gerar riqueza.” O foco dessa ideia diz que inovar não significa substituir pessoas, mas sim atribuir aos seus colaboradores novos desafios em favor do crescimento organizacional. 

Em tempos passados a gestão de trabalho em rede ou à distância (EAD) eram possibilidades impensáveis. Na área comercial e marketing, por exemplo, informações sobre consumidores eram espalhadas entre diferentes fontes de divulgação, o que tornava as campanhas de vendas e publicidade algo consideravelmente mais complexo. 

Atualmente soluções inovadoras para o acompanhamento de métricas e indicadores podem ser acessadas através de dispositivos com tecnologia mobile, oferecendo maior dinâmica aos processos de gestão, mais eficácia no relacionamento com clientes e uma organização que entrega mais resultados.

Estamos vivendo em 2020 um momento complicado na humanidade. Com a pandemia de COVID-19 o mundo mudou, a maneira de nos relacionarmos em todas as esferas mudaram, as organizações estão passando por um momento de crise econômica e de mudanças no ambiente de trabalho, o trabalho remoto (home office) se tornou o padrão predominante no mundo.

Devido a essa situação podemos observar diversos sistemas sendo empregados, tanto pacotes clássicos já utilizados anteriormente em grande escala como, por exemplo, o Pacote Office (da Microsoft), como novos sistemas da área da comunicação a distância como o Teams (da Microsoft), o Zoom (da Zoom Video Communications) e o Skype (da Microsoft).

Em uma pesquisa elaborada em 05/abr/2020, pela empresa portuguesa PPLWARE.COM LDA, através de seu website (https://pplware.sapo.pt/), onde mais de 5 mil respostas foram coletadas, pode-se levantar que no teletrabalho as três ferramentas mais utilizadas são o Teams (1.442 votos/26%),o Zoom (1.064 votos/19%) e o Skype (1.004 votos/18%).

Fonte: https://pplware.sapo.pt/internet/microsoft-teams-e-a-ferramenta-mais-utilizada-por-quem-faz-teletrabalho/

Fica evidente que as organizações estão buscando alternativas para se manterem competitivas nesse cenário adverso que estamos enfrentando, se valendo de ferramentas para home office que possivelmente não esperavam utilizar em suas rotinas de trabalho.

Com toda a tecnologia disponível e aplicada nos diversos segmentos, é possível gerar muitas informações e controle. Nesse sentido, as organizações possuem condições de avaliar como está sendo o desempenho de equipes e indivíduos na atual situação, para tomarem decisões estratégicas no futuro. 

A questão é que atualmente podemos ter boa parte da gestão de um negócio feita através de ambientes digitais (não necessariamente fora do ambiente físico da empresa).

O uso de tecnologias na gestão possibilita se desenvolver e repassar metas claras e objetivas a todos os colaboradores, independentemente de onde estejam com extrema velocidade, mesmo assim acredito que nada substitui o “olho no olho” em casos mais críticos.

Portanto, devido a todos os benefícios da tecnologia a distância, nota-se que a tendência seja cada vez mais fazer uso delas em nosso ambiente de trabalho. Acredito que o impacto será maior ainda com a chegada de novas tecnologias que utilizam Big Data e IA (Inteligência Artificial). 

Mesmo contornando a crise, com certeza as empresas mudarão naturalmente sua cultura, seu ambiente interno e sua maneira de fazer gestão. Sejamos todos bem-vindos a um mundo repleto de novas possibilidades!!


KRUGLIANSKAS, I. Tornando a pequena e média empresa competitiva. São Paulo: Instituto de Estudos Gerenciais e Editora, 1996.

LONGO, W. P. Tecnologia e soberania nacional. São Paulo: Ed. Nobel, 1984.

Microsoft Teams é a ferramenta mais utilizada por quem faz teletrabalho. Pplware, 2020. Disponível em: <https://pplware.sapo.pt/internet/microsoft-teams-e-a-ferramenta-mais-utilizada-por-quem-faz-teletrabalho/>. Acesso em: 11 de maio de 2020.

Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/procurar/tecnologia/

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segunda-feira, 18 de maio de 2020

O Novo Normal

Autor: Samuel Ramos (1)
Orientador: Prof. Semí Cavalcante de Oliveira (2)

Assim vem sendo chamado por muitos jornalistas e repórteres a atual situação em que vivemos: “O novo normal”. Esse termo de certa forma, descreve que possivelmente a realidade que conhecemos sofrerá mudanças significativas após o fim da pandemia do coronavírus. De fato, apenas com pouco mais de 1 mês após o início das medidas adotadas pelos governos para o combate ao vírus, já é possível observar as transformações de hábitos e comportamentos em nossa sociedade. 

Estas mudanças do status quo causadas por eventos “imprevisíveis” não são totalmente desconhecidas pelo mundo, talvez o exemplo mais significativo do século XXI seja o atentado ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001, onde foi possível observar ao longo dos anos que se passaram, o quanto a postura do povo norte-americano foi se modificando, o discurso do medo e hostilidade aos imigrantes se tornou uma característica comum, que foi normalizada e mantida até os dias atuais. Mas podemos analisar especificamente as epidemias ou mesmo as pandemias pela história, como a pandemia do influenzavírus H1N1 (mundialmente conhecida como Gripe Espanhola) no início do século XX, e refletir sobre os resquícios deixados por elas em nosso cotidiano. 

Ironicamente, a gripe espanhola não causou tantas mudanças de hábitos ou desconfiguração de padrões estabelecidos, e muito se deve pelo fato dessa pandemia ter sido tão vinculada a Primeira Guerra Mundial, ou seja, para grande parte da população a gripe foi uma consequência do ambiente precário em que viviam os soldados e as cidades arrasadas pela guerra, que acabou se espalhando pelo mundo. Junto com o fim da guerra no final de 1918, os casos do vírus influenza caíram abruptamente, voltando apenas no ano seguinte em sua terceira e última “onda” (característica diferente do Covid-19).

Já na década de 1980, o mundo presenciou o terror do vírus da AIDS, o governo junto com as entidades de saúde, iniciaram diversas campanhas para a conscientização do uso da camisinha, que até então não era amplamente distribuída ou mesmo utilizada por grande parte da população, já que não havia o medo generalizado ou muito menos a compreensão do quão perigoso eram as doenças sexualmente transmissíveis. A relação que pode ser feita aqui é que, atualmente o uso da camisinha se tornou essencial nos intercursos sexuais, e mais do que isso, se tornou um objeto do nosso cotidiano, por consequência de um vírus que afetou e ainda afeta milhares de pessoas pelo mundo. 

A reflexão que devemos fazer neste período em que estamos nos isolando socialmente, evitando aglomerações, toques e afetos, é o quão diferente serão nossos hábitos e comportamentos no mundo pós-pandemia? Porque agora nossa preocupação primordial é (ou deveria ser) o zelo pela vida humana para evitar o máximo de mortes possíveis. Paralelo a isso, precisamos nos atentar ao fato de que o mundo em que vamos retornar dessa situação não será o mesmo do qual deixamos, as indústrias sofrerão os impactos, pequenos comércios talvez precisem fechar, mas também novos modelos de negócios irão surgir (como os serviços de delivery que vem crescendo exponencialmente) e o modelo econômico de muitos países terá de fazer mudanças estratégicas para sua própria sobrevivência.

Mas provavelmente a maior de todas as transformações será nas relações interpessoais, e essas são especialmente mais difíceis de se prever, pois somos seres complexos que alteramos nossos comportamentos e culturas assim como uma lagarta faz seu processo de metamorfose, contudo devemos nos lembrar que somos seres adaptáveis, e quaisquer que sejam as mudanças de nossa realidade, essas em pouco tempo vão acabar se tornando o nosso “novo normal”. 



(01) Samuel Ramos é aluno do 5º período do Curso de Administração de Empresas do Unicuritiba.

(02) Semí Cavalcante de Oliveira é Professor de Economia Brasileira do Unicuritiba
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Eu e a Pandemia da Covid-19

Autora: Rhayadine Maria Fernandes Teixeira (1)
Orientador: Prof. Semí Cavalcante de Oliveira (2)

Por mais que essa pandemia já estivesse sido anunciada desde o ano de 2019, visto que a essa nova faceta do processo de globalização, ela realmente iria se espalhar da China para o mundo. Quando ela foi se aproximou do Brasil, o medo e em alguns o pânico foi aumentando e se transformou em uma experiência completamente nova e assustadora para o Brasil para o mundo em sua história contemporânea.

Quando o Brasil anunciou seu 1º caso, logo após o carnaval de 2020, o resto do mundo já se encontrava em alerta. Os casos mundiais foram aumentando e se espalhando exponencialmente, o alerta mundial de pandemia se instalou, mas o Brasil (teoricamente) apresentava poucos casos e até mesmo desconhecia que se tratava de algo novo. Logo os números vindos da Itália assustaram e deixaram grande parte da população chocada, adicionando isso o fato dos crescentes números de casos no Brasil, entramos em quarentena. 

O sentimento que invadiu milhares de casas foi de caos e medo, muitos não sabiam o que seria feito de seus trabalhos, escolas, faculdades e de suas vidas. A quarentena deveria proteger a população e impedir a propagação do vírus, mas isso não aconteceu pois muitos não levaram a doença a sério e agora já passamos de 14 mil mortos, número que tende a ser 2x maior visto a subnotificação e a falta de testes. 

A sensação que tenho é que minha vida antiga ganhou mais valor. Tudo que eu reclamava, agora sinto falta. Mesmo aquelas 17 horas que passava longe de casa, eu sinto falta. Não perdi ninguém da minha família para a Covid-19, mas cada vez que eu vejo os números de novos casos, sinto que estamos retrocedendo e aumento a quarentena. 

Nosso país se tornou uma bomba relógio em meio a América do Sul. Estamos enfrentando uma pandemia, sistemas de saúde a beira de um colapso, novos casos e mortes batendo recordes diários, cidades entrando em isolamento total e pessoas ainda subestimando a doença. Junto a este fato, que é uma das piores crises humanitárias que o Brasil já enfrentou, temos o nosso sistema político entrando em confronto diário, o governo federal criando crises políticas em momentos impróprios e demonstrando total despreparo com a situação. 

Não vejo o Brasil apresentar sinais de melhora enquanto o governo federal não estabelecer condições mínimas para que a população entre verdadeiramente em quarentena, pois devido ao fato de não termos vacinas, a melhor forma de se prevenir é não ficando exposto a este vírus.

Em minha opinião, que acredito ser semelhante a de um amplo e significativo segmento da população brasileira, e em particular, com a qual tenho contato (amigos e usuários de redes sociais): 2020 começou como um ano bom, mas se tornou um verdadeiro pesadelo, do qual, gostaríamos todos de acordar. 

Este se tornou um ano perdido, que por mais que tentemos recuperar, as cicatrizes serão permanentes: seja no contexto do mundo corporativo e suas formas de encarar o mundo do trabalho, ou mesmo na forma de cuidar da higiene pessoal. Também pelas vidas perdidas, pelo ensino que foi prejudicado, pelas intenções de alguns governantes que foram expostas, as demonstrações de afeto, a rotina e principalmente a liberdade, que de certa forma, nos foi subtraída. 


(1) Rhayadine Maria Fernandes Teixeira é acadêmica do 5º período do Curso de Administração de Empresaso Unicuritiba.

(2) Prof. Semí Cavalcante de Oliveira é Professor de Economia Brasileira do Unicuritiba




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Taylorismo Digital: Nova gestão

Autor: Marcelo Costa Filho (1)
Orientador: Professora Monica de Farias Mascarenhas e Lemos (2)

Um assunto de introdução ao curso de administração é a Administração Científica e seus princípios, iniciada por Frederick Taylor no início do século XX. Algumas das inspirações do Taylorismo foram baseadas em necessidades: de economizar tempo para as organizações; de treinamento para os funcionários; e, principalmente, de aumento de produção. Ao atender essas demandas, Taylor revolucionou e ajudou muitas organizações.

Essa época é lembrada, principalmente, pela falta de consideração pelo trabalhador que era exposto a jornadas exaustivas, a minutos de intervalo para alimentação (ao lado das máquinas) e econômicas idas ao banheiro. Uma das principais características também era a supervisão cerrada em cima dos funcionários, desde o momento em que entravam nas fábricas até o momento de irem embora. Além de termos a gestão absoluta dos “senhores da empresa”, que eram os responsáveis pelas tais supervisões e eram indispensáveis na administração das organizações.

Atualmente vemos todos esses princípios aplicados em várias empresas, mas um deles teve uma acelerada mudança: essa gestão absoluta dos “senhores da empresa”.

Não é difícil encontrar exemplos de gestão científica, aquela iniciada por Taylor, no mundo moderno. Podemos ver a indústria automobilística que usa uma abordagem semelhante, bem como as fábricas de computadores e até mesmo alguns hospitais. Hoje, empresas são mundialmente famosas justamente pelos seus métodos operacionalizados à luz da Administração Científica, contudo, um pouco mais humanizadas.

Antes, todos os funcionários no chão de fábrica, que colocavam a mão na massa, eram tratados como meras peças de uma grande máquina, e os antigos gestores, chamados aqui de “senhores das empresas”, supervisionavam os trabalhadores nos horários e tarefas, tentando sempre se manterem no poder e tendo liberdade de mexer com seus grupos de trabalho caso seu setor não mostrasse bons resultados. Eles, juntamente com os demais trabalhadores, também passaram a ser meras peças dessa imensa máquina, que mais recentemente passou a contar com grande carga tecnológica, essa é a característica chave do termo citado - Taylorismo Digital.

O Taylorismo Digital foi citado nos últimos anos por artigos e jornais norte-americanos, mostrando que, com o avanço da tecnologia, o antigo cronômetro que Taylor usava para controlar o dia a dia dos trabalhadores, agora está muito mais avançado, de maneira implícita e tecnológica. O fato de que os trabalhadores são estritamente supervisionados nunca foi uma novidade, porém, agora esse método de supervisão tecnológica mede também o dia a dia dos gestores, controlando suas funções e garantindo que estão usando as ferramentas disponíveis da maneira correta, de certa forma, ainda padronizadas. Essas medições geralmente são feitas com base nos KPIs (Key Performance Indicator, que significa indicador-chave de Desempenho), que é utilizado para medir o desempenho dos processos dentro da empresa e, consequentemente, o desempenho dos funcionários. 

Assim sendo, nesse mundo corporativo moderno, se meu gestor não faz o trabalho corretamente, simplesmente será substituído por alguém capaz de fazê-lo. Os motivos de desligamento são diversos, contudo também podem ser voltados para escândalos gerados na mídia, o que afeta a marca da empresa, consequentemente diminuindo o valor das ações. Portanto, os gestores devem além de mostrar bons resultados, manter uma boa imagem pública, tanto deles quando da organização.

Isso se torna verdade ao vermos alguns casos de demissão ou de afastamento de CEOs de algumas empresas mundialmente famosas, justamente por não estarem trazendo bons resultados aos investidores ou aos sócios. Segundo a Forbes, em 2017, Travis Kalanick, criador da Uber, por mais que no passado tenha revolucionado o mercado para a marca, ampliando o mercado e instaurando-a em outros países, foi afastado do comando da companhia. A justificativa centrou-se no desgaste entre ele e os investidores, pela falta de resultados positivos nas operações e outros escândalos em que estava envolvido.

Dados da Infomoney indicam que, em 2018, 18% de presidentes de empresas foram substituídos por resultados insatisfatórios, e pouco menos da metade por falta de ética, pois estavam envolvidos em escândalos de todos os tipos, abuso de autoridade, dentre outros comportamentos execrados pelos valores éticos e morais.

Acredito que, como essa ideia de gestão absoluta, outras ideias de Taylor irão se transformar ao longo do tempo, chegando até a desaparecer, ainda mais com o avanço da tecnologia, onde não teremos mais que vigiar o trabalho, pois será feito por máquinas programadas, e isso já está avançando de maneira bem rápida. Hoje, a tecnologia avançada é utilizada por grandes empresas, como vemos na Amazon, com seus robôs Kiva, que automatizam toda a movimentação de cargas dentro dos Centros de Distribuição. Mas o que sabemos é que as empresas precisam de líderes capazes de elevar a imagem da empresa, mostrando bons resultados e bom comportamento ético com os funcionários, e que aquele antigo “senhor da empresa”, que antes comandava e era insubstituível, não existe mais.

Com os casos de afastamentos e demissões citados aqui e incontáveis outros que vemos atualmente, concluímos que o Taylorismo Digital excedeu as expectativas do século passado e acabou dando um novo exemplo de gestão para as organizações. Agora, nenhuma gestão é absoluta, os gestores estão na corda bamba o tempo todo, basta um deslize que venha a comprometer a imagem da empresa para que caiam.

O Taylorismo Digital, pelo fato de estar sempre de olho em todos os funcionários por meio de indicadores, acaba gerando certo receio nos funcionários e gestores de usarem a criatividade, pelo fato de saberem que se algo ficar abaixo do padrão de excelência requerido pelos donos, podem ser substituídos facilmente.



(1) Marcelo Costa Filho é aluno do módulo E do curso de administração do Unicuritiba. Também é monitor da disciplina de Fundamentos da Administração e essa é sua primeira contribuição para o blog do nosso curso.

(2) Monica de Farias Mascarenhas e Lemos, é Professora e Coordenadora do Curso de Administração de Empresas do Unicuritiba.
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quarta-feira, 13 de maio de 2020

A crise no mercado financeiro e o COVID-19 - Prof. Henry Siro Evrard

Quando o Ibovespa (principal índice da bolsa de valores brasileira) estava próximo dos 120 mil pontos, eu falava para uma amigo meu que, uma queda para os 80 mil pontos seria natural. Representaria uma queda ao redor de 30%. Não é nada de mais, considerando as oscilações normais da bolsa de valores.

Logo depois, apareceu as notícias do Covid e a bolsa caiu para 88 mil pontos rapidinho, em questão de poucas semanas. Pensei eu: pronto, chegamos na realização dos 30% que eu esperava. Mas logo começaram as informações de quão séria era a doença do coronavírus, e como, a partir daquele momento, teríamos algo realmente novo pela frente.

Logo entendi que a “queda normal de “30%”, não teria nada a ver com o que estávamos vendo no mercado. Chegamos na mínima de 63,5 mil pontos para o Ibovespa, e agora, depois de uma recuperação de 26% desta mínima, estamos voltando aos 80 mil pontos. 

Do topo até a mínima, o Ibovespa caiu ao redor de 48%. Exagero, será?

Os preços das ações não são mais do que as expectativas dos retornos futuros trazidas a valor presente por uma taxa de retorno. Se aumento o risco, vamos ver a taxa de retorno aumentar. Isso pode ser visto olhando a taxa de juros futura. Os títulos públicos, que representam no nosso contexto brasileiro, uma taxa de retorno livre de risco, aumentaram significativamente em relação ao momento anterior à crise.

A magnitude do efeito do risco sobre a remuneração dos títulos de longo prazo, você pode observar através das taxas dos títulos públicos. Do momento pré covid-19 até o momento, tanto as taxas indexadas à inflação quanto aquelas pré-fixadas, tiveram seu retorno aumentado em torno 1,2% ao ano – passando por um pico de 3% de aumento no pré-fixado.

Considerando, portanto, o aumento do risco, a gente justifica a queda do preço das ações por si só. Como aumentou a taxa requerida de retorno sobre todos ativos do mercado financeiro, os valores atuais destes ativos caem. Mas não é somente este fato que justifica a queda das ações. O que vamos ver é, provavelmente, uma queda pronunciada dos resultados das companhias para os próximos anos. E, consequentemente, uma queda da taxa de crescimento dos resultados das companhias.

Assim, os 48% de queda na bolsa de valores já começa a fazer mais sentido. Além de uma queda natural de preços que, no curto prazo, poderiam ter extrapolado um pouco para cima. 

Agora temos um cenário muitíssimo especial. Mas, em última instância, a pergunta que precisamos responder é: será que o preço se justifica?

Então, vamos fazer um exercício de trás para frente. Qual seria o crescimento e a taxa de desconto e de crescimento justificável para que tivéssemos o Ibovespa a 120 mil pontos, e qual a taxa de retorno e crescimento que justifica o Ibovespa de 80 mil pontos? Respondida a estas questões, nós poderemos dizer que o mercado, em geral, caiu excessivamente ou não. E como isso, responder a pergunta: vale a pena entrar em ações agora?

Para simplificar o cálculo, eu vou desconsiderar o caixa das companhias. Eu sei que isso pode levar a um erro nas estimativas, mas para agilizar as contas vou correr o risco deste erro.

Bom, vamos lá... para saber o P/L do Ibovespa, teríamos que fazer um cálculo com todas as empresas do índice... um pouco complicado. Vamos usar uma notícia que fala de um relatório do Itaú, falando de P/L , em começo de fevereiro de próximo de 14 x. Naquela época, o Ibovespa circulava em torno de 115 mil pontos. Pois bem, vamos usar estes números para nossas estimativas. Considerando tais dados, quais expectativas de retornos e crescimento para justificar um P/L de 14 ?
PL= 1i-g

Portanto, um P/L de 14 é justificável por um denominador de 7,14%. Esse denominador é o resultado de i, sendo este a taxa de desconto, e g, sendo este a taxa de crescimento. Nesta época , a taxa livre de risco estava em torno 6,6% (conforme gráficos de título público pré fixado acima). Considerando uma taxa de retorno adicional de algo em torno de 5% (expectativa de ganho adicional por investir no mercado) , teríamos uma taxa de retorno de 11,6%. Agora, para chegarmos no denominador de 7,14%, conseguimos observar que o crescimento esperado para os lucros eram de 4,5% ao ano. 

Ora, se a expectativa do crescimento do PIB, no Brasil, tem girado em torno de 2% (e isso significa um crescimento real, ou seja, acima da inflação), e a inflação, pela meta do BC, é algo em torno de 3,5%, temos que se as empresas seguirem o crescimento do PIB, não é nada incomum você ver um de crescimento dos resultados na ordem de 4,5% ao ano.

É certo que temos o problema das necessidades dos reinvestimentos dos lucros para chegar nos crescimentos atuais, mas para fins de simplificação, vamos desconsiderá-los e sermos benevolentes com o nosso querido Ibovespa. Seja como for, uma possibilidade de “justificativa” para o Ibovespa no cenário pré-covid era:

Justificativa para precificação de Ibovespa a 115 mil pontos


Ativo Livre de risco
Prêmio Mercado
i
g
i-g
P/L
6,60%
5%
11,60%
4,45%
7,15%
13,99
6,60%
4%
10,60%
3,45%
7,15%
13,99
6,60%
3%
9,60%
2,45%
7,15%
13,99

Se para você, algum cenário desta tabela, considerando o retorno (i) e crescimento (g) fazia sentido na época pré covid, então poderia ficar à vontade para comprar o Ibovespa naquele momento.

Agora, vamos à análise do Ibovespa aos 80 mil pontos. Considerando a mesma base de lucros de início de fevereiro, o P/L do Ibovespa agora estaria a 9,8. 

Para entendermos o que “está no preço”, vamos botar em prática a nossa formulazinha mágica:

PL= 1i-g

Agora, para chegar a um P/L de 9,8, o resultado do denominador (sendo este o resutaldo da taxa de retorno menos a taxa de crescimento) teria de ser 10,25%. 

Como taxa livre de risco, não podemos usar os mesmos 6,7%, mas algo como 7,7%, por conta da elevação da taxa dos títulos públicos. Se adicionarmos um valor de 5% de prêmio de mercado, estamos falando de uma taxa de retorno esperada mínima de 12,7%. Bom, para chegarmos ao denominador da equação de 10,25%, então o crescimento esperado teria de ser de 2,4%.

Podemos, então, entender que os cenários a seguir “justificariam” o preço do Ibovespa nos valores atuais de 80 mil pontos:

Justificativa para precificação de Ibovespa a 80 mil pontos


Ativo Livre de risco
Prêmio Mercado
i
g
i-g
P/L
7,70%
6%
13,70%
3,45%
10,25%
9,76
7,70%
5%
12,70%
2,45%
10,25%
9,76
7,70%
4%
11,70%
1,45%
10,25%
9,76

Então a pergunta é: vale a pena ou não vale a pena comprar o Ibovespa, hoje? Bom, aí é contigo. Se algum dos cenários de retorno (i) e crescimento (g) da tabela acima fizerem sentido para você, como, por exemplo, na segunda linha: se você fica satisfeito com um retorno de 12,7% considerando que os lucros das companhias vão crescer 2,45% , be my guest, e aproveite para colocar uma parte da sua polpuda finanças no nosso mais querido índice de bolsa brasileira, o Ibovespa.

Você pode fazer isso comprando o ETF Bova11. Só digitar o código BOVA11 aí no seu homebroker, e meter o dedo no gatilho. Ou, se este cenário não te apetece, você pode arredar o pé, e manter o dinheiro longe do risco, ou ainda, coisa que me agrada muito, escolher algumas ações específicas, e não investir no Ibovespa como um todo. Mas aí é outra conversa, para outros dias. 

Uma pergunta que te faço, e que é difícil de responder: o efeito do Covid sobre o resultado das empresas é quão passageiro? Se for coisa de 1 ano, 2, de repente, uma queda de 2% no crescimento para a perpetuidade, é um exagero. Mas se for um efeito que acompanhará as empresas pela próxima década ou duas, aí começa a fazer sentido os preços que vemos no mercado financeiro hoje.


Prof. Henry Siro Evrard
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