quarta-feira, 24 de junho de 2020

Economia x Saúde: Como conciliar e manter o equilíbrio entre ambos os lados




O monitor Ismael Santos Nobre, com a orientação do professor Rafael Augusto Lourenço, apresenta sua opinião em relação à importância do equilíbrio de ações para a saúde e para a economia diante da pandemia.

Artigo de Opinião – Ismael Santos Nobre
Orientador – Prof. Me. Rafael Augusto Lourenço


Estamos vivendo em nossa atualidade uma crise sem precedentes. Pelo menos para parte da população mundial, será a primeira grande crise no que tange a saúde e a economia ao mesmo tempo. Temos que enfrentar um inimigo invisível aos nossos olhos, que ataca de forma silenciosa, mas que pode ser letal!

Ainda se não bastassem as batalhas que estamos enfrentando sem nenhuma arma de combate eficaz (vacina ou tratamento confiável), outro pilar fundamental para a subsistência humana está sendo duramente atingido..... a Economia.

Sim, a saúde sempre vem em primeiro lugar! Mas como manter a saúde em dia, com uma alimentação saudável, bons hábitos de higiene, ficar em quarentena/isolamento social para proteger-se e proteger o próximo também, sem condições de subsistência? O que dizer das pessoas que não têm as mínimas condições financeiras? Daquelas que trabalham de forma autônoma e dependem constantemente do trabalho do dia a dia para conseguir trazer para casa o pão de cada dia? 



Bruno Villas Boas, em sua reportagem do dia 31/03/2020 no portal Valor Econômico, mencionou que, segundo dados atualizados do IBGE, o Brasil tem aproximadamente 38 milhões de trabalhadores na informalidade, considerando dados até o mês de fevereiro de 2020. A grande maioria vive em periferias e favelas onde não há nem saneamento básico para manter as condições mínimas de higiene.

O que vemos nesta crise é um embate entre a economia versus a saúde, como se uma fosse mais importante que a outra, mas ambas não sobrevivem sozinhas!

É preciso tomar decisões inteligentes, que não prejudiquem nenhum dos lados. O Covid-19 mata; mas a fome também! Não podemos esquecer disso. Por isso deve-se tomar as decisões em equilíbrio. É preciso fazer um isolamento social inteligente; mas que não pare a economia, pois as consequências de ambos os lados são catastróficas.

Muito se fala em comparações entre o Brasil e restante do mundo, onde temos diversas diferenças que não são levadas em conta e nem analisadas com os devidos critérios, como a idade da população, o número de habitantes por quilometro quadrado, o clima, a renda e diversos outros fatores determinantes.

O Brasil é incomparável por essas razões, como dizia o Ex Ministro da Saúde em suas entrevistas, “o Brasil equivale a um continente e as medidas adotadas não podem ser uniformes e concomitante em todos os Estados e os mais de 5.000 Municípios”.

Não faz sentido generalizar todo o território nacional por conta de epicentros totalmente concentrados em certas regiões. Isso pode causar graves consequências. Tivemos casos de cidades que entraram em quarentena severa sem ter nenhuma notificação de casos confirmados. Atitudes como estas, tomadas sem análise inteligente, acabam por gerar outras crises, como a econômica por exemplo.

É preciso propor um isolamento eficaz! Nem horizontal e nem vertical, mas de forma inteligente que seja mais "forte" para as pessoas que pertencem aos grupos de riscos e para as pessoas que não estão presentes neles, que elas possam trabalhar de uma forma mais segura.

Chloé Pinheiro, em sua matéria do dia 09/04/2020 no portal Veja Saúde, mencionou que aproximadamente 80% dos casos são de pessoas assintomáticas ou que tem sintomas bem leves. Também tem que ser levado em consideração a subnotificação que temos no Brasil, pois são testados apenas os casos mais graves, então podemos supor que o percentual de casos fatais está bem distorcido da realidade.

Ricardo Galhardo e Daniel Bramatti, em sua reportagem do dia 15/05/2020 no portal O Estado de S. Paulo-Saúde, mencionam que, um estudo feito pela USP e UNIFESP com o apoio do Instituto Semeia e integrantes do Laboratório Fleury e Ibope Inteligência, nos seis bairros de São Paulo com maior incidência de Covid-19, constatou-se que 91,6% dos casos ficaram fora das estatísticas oficiais por diversos motivos, entre eles os casos leves e os assintomáticos! 



Mencionam ainda que no Rio Grande do Sul um estudo semelhante foi coordenado pela Universidade federal de Pelotas, onde foi constatado que há estimativas que para cada uma pessoa que seja identificada como caso positivo, se tenha nove casos ainda não descobertos.

O resultado que temos hoje é um Presidente da República preocupado com a economia nacional e os estragos sem precedentes que o Covid-19 deixará ao país. Enquanto muitos Governadores utilizam o atual momento como palanque político e propaganda eleitoral gratuita diária, pregando um terror sem qualquer planejamento econômico e o mesmo no que tange a saúde para a população geral que governam.

Visto isso, podemos afirmar que há necessidade de uma nova normalidade, com um distanciamento social inteligente sem atrasos para a economia, pois ambas precisam andar lado a lado (economia e saúde).

Não é questão partidária ou ideologia política que estamos debatendo, mas sim uma crise obscura que estamos prestes a enfrentar caso o governo não consiga conciliar e manter um equilíbrio entre economia e saúde.

A conclusão é simples, toda essa quarentena (necessária), porém desordenada, que os Governadores e Prefeitos estão adotando sem nenhum planejamento ou ajuda econômica à sua população, levará a morte de milhares de pessoas por questões econômicas já que visam apenas a briga política disfarçada de preocupação com a vida do cidadão.

No estilo que está sendo realizada esta quarentena, que se estenderá, sem dúvidas, de maneira ineficiente até 2021, ela está tornando-se apenas o ensaio para a próxima grande recessão que acometerá o país nos próximos anos.





REFERÊNCIAS

GALHARDO, Ricardo; BRAMATTI, Daniel. Estudo inédito detecta anticorpos ao coronavírus em 5% dos moradores da cidade de São Paulo. O Estado de S. Paulo, 2020. Disponível em: <https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,estudo-inedito-detecta-anticorpos-ao-coronavirus-em-5-dos-moradores-da-cidade-de-sao-paulo,70003304706>. Acesso em: 20 maio 2020.

PINHEIRO, Chloé. Casos sem sintomas, leves e graves: as diferentes evoluções do coronavírus. Veja Saúde, 2020. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/medicina/ casos-sem-sintomas-evolucoes-coronavirus/>. Acesso em: 14 maio 2020.

VILLAS BOAS, Bruno. IBGE: País tinha 38,08 milhões na informalidade até fevereiro, mostra IBGE. Valor Econômico, 2020. Disponível em: <https://valor.globo.com/brasil/ noticia/2020/03/31/ibge-pais-tinha-3808-milhoes-na-informalidade-ate-fevereiro.ghtml>. Acesso em: 14 maio 2020.
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quarta-feira, 10 de junho de 2020

O NOVO TRABALHADOR



POR: Prof. Ms Dori Luiz Tibre Santos [1]

Cibele Nardi [2]


“Sorte é estar preparado para a oportunidade”
Benjamin Disraeli
Ex-Primeiro Ministro do Reino Unido


As transformações do ambiente laboral estão sumarizadas no conceito “substituição do emprego pelo trabalho”. As oportunidades laborativas deslocam-se num contínuo entre o conceito de “emprego” e o conceito de “trabalho”. Mas cremos ser importante separarmos os conceitos:

Considerando que “emprego”, se trata de uma relação de compra e venda da força laborativa, formalizada contratualmente, padronizada, dotada de certo grau de rigidez com relação a contratação e demissão; é celebrada usualmente sem temporalidade preestabelecida e corresponde ao desempenho; de seu exercício derivam direitos sociais garantidos pelo Estado ao contratado e uma remuneração periódica. 

E “trabalho” sendo uma relação personalizada, de compra e venda da força de trabalho, formalizada contratualmente de modo difuso ou informalizada pelo acordo das partes; tal relação é dotada de maior flexibilidade com relação à “entrada” e “saída” e de menor ou nenhum grau de estabilidade com relação à permanência; realiza-se para a obtenção de determinados resultados pactuados entre contratado e contratante através do desempenho de tarefas variadas escolhidas pelo contratado segundo acordo contínuo entre as partes, de cujo sucesso ou insucesso deriva uma remuneração ligada ao resultados obtidos.

Tais mudanças apontadas lançam um novo conceito: empregabilidade. Autores como Hanashiro (2008), Gil (2014) e Bohlander (2010), afirmam que a empregabilidade pode ser entendida como uma medida das qualificações intrínsecas do indivíduo, que o tornam capaz de adequar-se às necessidades do mercado de trabalho incrementando seu potencial de obter ou permanecer no emprego. Tal “medida” enfatiza habilidades de cunho mais geral, do tipo interpessoal, capacidade de aprendizado e adaptabilidade, perfis mais generalistas e preocupação com o processo de aprendizado continuado, distanciando-se da antiga suficiência da dedicação, pontualidade e conhecimento técnico, características do fordismo e da sociedade predominantemente industrial.

Tais transformações vão de encontro à substituição do trabalho diretamente produtivo pela automação, levando-nos a uma sociedade pós-industrial: a sociedade de serviços. Sociedade esta, caracterizada pelo inchaço do contingente de trabalhadores no setor terceiro das economias, principalmente em setores como informação, comunicação e lazer.

Este novo conceito parece estar de acordo como uma tendência global e da natureza estrutural: a criação liquida de oportunidades junto a atividades gerenciais, administrativas, de vendas e de prestação de serviços de assistência pessoal, em detrimento de oportunidades ligadas diretamente ao processo produtivo e a atividades repetitivas. Mesmo no setor terciário, atividades e profissões que não agregam valor à percepção do cliente acerca do produto ou serviço ofertado estão desaparecendo. 

Assim, o trabalhador de hoje deverá ajustar-se aos novos padrões de produção carregados de flexibilidade, inovação, tecnologia e produtividade. Neste sentido, os atuais padrões exigirão trabalhadores com maior número de anos de escolaridade, que detenham não somente um conhecimento instrumental acerca de suas tarefas, mas preparação menos padronizadas, permeadas por novas técnicas introduzidas por tecnologias em permanente evolução, e, ainda, para produzir de modo eficaz e eficiente. Interdisciplinaridade, flexibilidade, visão holística, iniciativa, inovação, interpessoalidade, comunicabilidade, associatividade e inclinação para o aprendizado continuado formam o conjunto de competências necessárias para o atual trabalhador.

Esta nova ambiência impacta positivamente as relações capital-trabalho: a inadequação das relações fixas e de alguma rigidez relativa face às flutuações da demanda pela produção, as constantes alterações tecnológicas no padrão produtivo que exigem a cada instante novas habilidades e competências as quais forçam as empresas a renovar seu capital humano, bem como a necessidade dos trabalhadores de se manterem empregados num ambiente de crescimento da produtividade que provoca demissões, levam à busca conjunta de novos arranjos entre capital e trabalho no sentido de atender às necessidades de ambos.

Vimos há pouco que a recente nomenclatura dada à empregabilidade acaba sendo à capacidade de adequação do profissional ao mercado de trabalho. Ou seja, quanto mais adaptado o profissional, maior a sua empregabilidade. Neste contexto, o profissional que desenvolve a sua empregabilidade terá mais condições de lidar com os riscos de ficar sem renda, fará a estabilidade ser um estado de espirito e não algo quase impossível, que encontra-se apenas em empregos públicos. Nos parece não haver muito mistério: o segredo está no profissional entender, antes de mais nada, que é preciso aprender sempre, exigindo do indivíduo a busca constante pelo aprimoramento de seus conhecimentos, sendo esta uma exigência fundamental para se inserir e, ou se manter no mercado de trabalho.

Apesar de algumas organizações desempenharem um papel importante no planejamento das carreiras de seus funcionários, intimamente os indivíduos são responsáveis por iniciar e gerenciar o próprio planejamento. Como ter uma carreira que satisfaça o próprio indivíduo envolve o mesmo a criar seu próprio plano de carreira – não somente seguir um caminho que foi estabelecido pela organização -, cabe a ele, indivíduo, identificar seus conhecimentos, habilidades, capacidades, interesses e valores, e buscar informações sobre opções de carreira para estabelecer metas e desenvolver planos de carreira.

Por isso, propomos duas provocações: A de atualizar o seu currículo e encaminhá-lo para as vagas existentes, mesmo que empregado, a fim de poder testar a adesão do seu currículo com o mercado de trabalho.

Outra provocação é o colaborador pedir à sua gestão, a assistência contínua na forma de feedback do seu desempenho e tornando disponíveis informações sobre a empresa, sobre o cargo e sobre as oportunidades de carreira que possam ser de interesse.

Compreendendo o cenário atual, as características do profissional que o mercado exige e o que ainda precisa ser construído em cada um de nós, de modo a estruturar uma carreira bem-sucedida, finalizamos com o pensamento de Aristóteles: “A excelência é uma arte adquirida através do treinamento e do hábito. Não agimos corretamente porque temos excelentes virtudes, mas somos virtuosos porque agimos corretamente. Nós somos o que fazemos de forma repetitiva. Excelência, então, não é um feito, mas um hábito”. 


[1] Psicólogo, Psicanalista, Professor dos cursos de Psicologia e Administração da UniCuritiba
[2] Administradora; Consultora em Desenvolvimento Pessoal e Profissional. Acadêmica do curso de Psicologia da UniCuritiba.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ANTUNES, A. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Bomtempo, 1999.

BOHLANDER, George; SNELL, Scott. Administração de recursos humanos. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

DAÓLIO, Luiz Carlos. Perfis e competências: retratos dos executivos, gerentes e técnicos. São Paulo: Erica editora, 2004

EBOLI, Marisa. Educação corporativa no brasil: mitos e verdades. São Paulo: Gente, 2004.

GIL, Antônio Carlos. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. 6ed. São Paulo: Atlas, 2014

HANASHIRO, Darcy; ZACCARELI, Laura. Gestão do fator humano: uma visão baseada em stakeholders. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

MARRAS. Jean Pierre. Administração de recursos humanos, do operacional ao estratégico. 5 ed. São Paulo: Futura, 2002.

MORAN, H. Desenvolvendo organizações globais. São Paulo: Futura, 1996

SOARES, Rodrigo; PERO, Valéria. O que é desemprego tecnológico? Em Economia, capital & trabalho. Vol.3, nº3, out.95. Rio de Janeiro: Departamento de Economia da PUC-Rio, 1995.

SILVA, Mateus de Oliveira. Gestão de pessoas através do sistema de competências. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005.

ULRICH, Dave. Os campeões de recursos humanos: inovando para obter os melhores resultados. São Paulo: Futura, 1998.
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Espiritualidade Aplicada na Corporação.

Autora: Emanoely dos Santos - monitora da disciplina de Fundamentos da Administração do Unicuritiba, com a supervisão da professora Monica de Faria Mascarenhas e Lemos

O Egito Antigo foi o palco de uma das mais importantes civilizações da antiguidade, no topo de sua sociedade encontrava-se o Faraó, venerado como um verdadeiro Deus. É evidente o quanto a espiritualidade, que pode ser definida como uma "propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio" (GUIMARÃES, 2007), fica evidente na sociedade egípcia. Afinal, a dedicação e inspiração para a construção das belas pirâmides provinham de uma das mais antigas aspirações humanas: a imortalidade.

Ao olharmos esse exemplo, de grandes túmulos exuberantes para o governador do Egito, construídos na esperança de que haveria uma ressurreição, fica difícil enxergamos um paralelo com nossa sociedade atual. Contudo, percebemos que esse desejo pela eternidade, nunca nos deixou, e na verdade, nos impulsiona. Construímos grandes e exuberantes organizações, projetos e monumentos, e embora não havendo uma crença generalizada de que nosso representante de Estado um dia irá ressuscitar dos mortos, como servos egípcios continuamos nos dedicando à construção e manutenção de nossa sociedade, nossa cultura e nossas ideologias, na esperança de nos tornarmos mais duradouros do que nossa própria vida.

No livro Imagens da Organização, baseando-se no trabalho de Ernest Becker, o autor, Gareth Morgan (1996), discorre mais sobre o assunto: "Entre todos os animais, somente os homens têm consciência a respeito do fato de que vão morrer e são obrigados a passar suas vidas tendo o conhecimento do paradoxo entre capacidade de transcendência espiritual, quase divina, e existência dependente de uma estrutura finita de carne e ossos que, em última análise, irá sucumbir e desaparecer. [...] Esta perspectiva sugere que é possível compreender organizações e muito do comportamento dentro delas em termos de uma busca por imortalidade. Ao criarmos organizações, estamos criando estruturas de atividades que são maiores do que a vida e que, frequentemente, sobrevivem por gerações. E, ao nos identificarmos com estas organizações, encontramos significado e permanência." Observamos então como o ser humano busca por significado e controle, na tentativa de mascarar sua mortalidade, há espiritualidade não somente em uma religião, ou em uma sociedade teocrática, mas em toda nossa cultura e principalmente dentro de nossas corporações. 

À luz do trabalho de Becker, o grande precursor da administração científica, Frederick Taylor, passa a ser apenas um homem controlador, com um caráter obsessivo e compulsivo, movido por uma necessidade de dominar os aspectos de sua vida, fugindo assim de sua própria fragilidade. Através dessa espiritualidade percebida no trabalho de Taylor, que tornou as organizações mecanicistas, o homem nega a realidade presente da morte, remetendo ela para o fundo do inconsciente, o que torna-o soberbo. Essa crítica à propensão humana por busca de conexão com algo maior que si próprio, encontrada nas organizações, se aplica àqueles que, conformados, vivem suas vidas baseadas em crenças limitadoras, vivendo de forma automática, sem ponderar suas ações e acreditando inconscientemente que fazem parte de algo grande, transcendente, que lhes dá segurança. Os “homens de primeira classe” se tornaram incapazes de questionar o sentido de suas vidas. E isto era bom para que a sociedade mantivesse seu ritmo, pois afinal, se houvessem pessoas críticas, subjetivas ou até mesmo criativas, todo o sistema poderia ser comprometido.

Se, porém, a espiritualidade resulta da falta de humildade em reconhecer sua vulnerabilidade diante de um mundo complexo e sem respostas, poderemos encontrar novos significados ao enfrentar nossas sombras, ao considerar nossa própria insuficiência, e ao vermos que nossa realização como seres humanos depende de algo maior que as tarefas realizadas em uma linha de montagem ou em metas em um escritório. O sentimento de pertencimento não pode ser extinguido, mas reconsiderado com humildade, afinal, conscientes ou não, somos movidos por motivações intrínsecas que nos fazem evoluir ou regredir. Falo da busca por novos propósitos e significados de vida, que não mais tentam buscar respostas e simplificações para controlar e confortar o próprio ego e arrogância humana, mas sabendo que pelo fato de ser uma estrutura finita de carne e ossos que, em última análise, irá sucumbir e desaparecer, busca então, pelos melhores significados de existência.

Em um mundo cada vez mais tecnológico, instável e complexo, onde os trabalhos manuais cada vez mais estão sendo substituídos por máquinas e softwares, e onde cada vez mais nossa fragilidade e mortalidade é exposta, o ato de continuarmos nosso ritmo de consumo e produção nos dá a sensação de que controlamos muito mais do que realmente controlamos, quando nos deparamos com as imprevisibilidades, como um caso de força maior que interrompe nosso modo automático de vida, podemos então considerar nossa própria alma, nossa forma de se relacionar com meio ambiente e com os demais seres, e nossas reais motivações, passando a escolher em quais alicerces basearemos nossas atitudes, nos tornando cada vez mais humanos. 

Quando o Faraó morria, ele era enterrado com todos os seus bens acumulados: ouro, joias, comida, armas, tronos e roupas, só na sepultura de Tutancâmon foram achados mais de 5 mil objetos. Ele passava a vida construindo seu túmulo, que por vezes era saqueado, itens perecíveis que eram consumidos, e o que restou para nós disso foi o conhecimento arqueológico, pontos turísticos e curiosidade. De tudo que dedicou sua vida, o que mais nos interessou em toda uma sociedade foram suas obras, aquilo que cada pequeno egípcio, pedra por pedra construiu, contudo, não saberemos se seu objetivo de transcendência, executado debaixo do trabalho forçado, acumulação e desigualdade, foi atingido. 

O que nos faz pensar, estamos juntando números, cédulas, patrimônios, entre outras coisas, muitas vezes para nossa própria tumba, portanto, deveríamos continuar a construir nossa pirâmide organizacional se isso significa passar por cima da nossa própria humanidade? Aquilo que a economia chama de externalidades, as consequências de nossas ações já no presente e como isso afeta o ambiente e pessoas mais vulneráveis, deveria nos levar à compreensão de que no fim das contas todos somos mortais, e então, veremos a importância de se escolher, dia após dia, onde depositar nossas crenças e força. Se no final, o que restará serão nossas obras, um escravo que, pedra por pedra, contribuiu para a construção de algo, mas que não perdeu em seu íntimo a compaixão, a humildade, a integridade e o amor, conseguiu trazer maior significado para sua existência do que um Faraó, que cercado de riquezas, esperava uma ressurreição. 



Referências:
⦁ GUIMARÃES, Hélio Penna. ⦁ «O impacto da espiritualidade na saúde física» (PDF). Rev. Psiq. Clínica.
⦁ MORGAN, Gareth (1996). Imagens da Organização.
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O destino incerto da aviação em tempos de Covid-19

Autor: Samuel Ramos, aluno do módulo E do curso de Administração do Unicuritiba e monitor do professor Me. Rafael Augusto Lourenço na disciplina de contabilidade gerencial e financeira.

O portal do G1 no dia 05/03/2020 publicou uma matéria com base em estimativas da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), informando que as perdas das companhias aéreas, devido a pandemia do covid-19, poderiam alcançar até 113 Bilhões de dólares. Essa pesquisa, realizada no início de março, levava em conta um cenário mais otimista, no qual a disseminação do vírus fosse mais contida. Analisando as estatísticas atuais, é sensato afirmar que as perdas serão expressivamente maiores do que esta primeira estimativa.  É de uma ironia cruel observar que a aviação, como um meio de conexão entre países em todo globo, foi involuntariamente uma grande responsável pela disseminação do coronavírus pelo mundo, uma vez que, vivemos em uma sociedade globalizada, onde limites territoriais já não são um impasse para as inter-relações entre governos e indivíduos. A realidade é que agora, com a enorme redução de viagens e até mesmo inúmeras restrições para a entrada de viajantes em determinados países (como foi o caso dos Estados Unidos, em um decreto assinado pelo presidente Donald Trump, determinando que por tempo indeterminado, viajantes que tenham passado pelo Brasil nos últimos 14 dias anteriores a tentativa de ingresso no país serão impedidos de tal ato), as companhias aéreas enfrentam possivelmente a maior crise já vista na história para a categoria. Essas empresas precisam buscar maneiras de se manterem ativas para evitar a consequência máxima: a falência, destino este que a maior companhia aérea regional da Europa não conseguiu escapar. 


Em sua matéria do dia 05/03/2020, o jornal The Guardian, menciona que a Flybe, fundada em 1979, operou por quatro décadas na Europa, e foi responsável por aproximadamente 40% dos voos domésticos do Reino Unido. A companhia já vinha sofrendo crises financeiras e no início do ano o governo britânico havia anunciado um aporte fiscal na tentativa de reverter a situação. Mas, com o impacto do coronavírus, o destino foi traçado e no dia 5 de março a empresa anunciou o encerramento de todos seus voos, e com isso cerca de 2 mil empregos foram perdidos. Mais recentemente, temos o caso da Latam Airlines (a maior companhia aérea da América Latina) que emitiu um comunicado de recuperação judicial para suas afiliadas no Chile, Peru, Colômbia, Equador e Estados Unidos, novamente, devido as consequências da pandemia. Após o anúncio as ações da companhia caíram 39,92% na Nyse (New York Stock Exchange) pouco antes de serem suspensas, algo comum após empresas emitirem pedido de proteção judicial.


Outras companhias que ainda estão funcionando com baixa demanda se encontram em um beco sem saída, visto que mesmo com as aeronaves mantidas fora de operação nos aeroportos, há um grande custo de manutenção. Como relata a companhia aérea KLM através de seu porta voz: "Um avião estacionado, sem previsão de retorno para operar, não pode ser deixado parado até a companhia precisar dele novamente. Uma aeronave deve ser mantida em condições de operação, para que possa voltar às atividades assim que for necessário” (UOL NOSSA, 2020). Além disso, há inspeções periódicas a serem realizadas, sistemas de direção devem ser testados e a cabine arejada. Todos esses elementos estão envolvidos no custo apenas para manter as aeronaves em pleno funcionamento. Porém é importante ressaltar que as operações de uma companhia aérea envolvem centenas de colaboradores nas mais diversas áreas de atuação, e ainda é um desafio para essas organizações traçar estratégias de como realocar esses funcionários para que possam realizar suas tarefas remotamente se possível, e nos casos onde não se aplica, elaborar meios para contornar essa situação, evitando demissões em massa, que causariam um custo ainda maior. Certamente não há como responsabilizar nenhuma organização pela falta de preparo neste período, visto que esta situação é algo sem precedentes na história recente. Toda nossa maneira de viver, nossas relações, nosso consumo, a forma como nos conectamos se transformaram completamente nas últimas décadas, e, com certeza, a década de 2020, na qual estamos ainda nos primeiros meses, será decisiva sobre que rumos a sociedade irá tomar. 


REFERENCIAS
Flybe: airline collapses two months after government announces rescue. The Guardian, 05 mar. 2020. Disponível em: <https://www.theguardian.com/business/2020/mar/05/flybe-collapses-two-months-after-government-announces-rescue>.Acesso em: 15 maio 2020.

Novo coronavírus pode causar perdas de até US$ 113 bilhões no transporte aéreo de passageiros em 2020. G1, 05 mar. 2020. Disponível em:<https://g1.globo.com/google/ amp/ economia/noticia/2020/03/05/novo-coronavirus-pode-causar-perdas-de-ate-us-113-bilhoes-no-transporte-aereo-de-passageiros-em-2020.ghtml>. Acesso em: 15 maio 2020.

VINCENTI, Marcel. Coronavírus: o que as companhias estão fazendo com os aviões parados. Uol Nossa, 2020. Disponível em:<https://www.uol.com.br/nossa/noticias/ redacao/2020/04/17/coronavirus-o-que-as-companhias-estao-fazendo-com-os-avioes-parados.htm>. Acesso em: 15 maio 2020.



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