terça-feira, 24 de novembro de 2020

A Atual Relevância de Um Ambiente Organizacional Sustentável

   A importância de se criar um ambiente organizacional preocupado com o espaço que atua não é um tópico recente, podemos observar que o interesse pelos aspectos ESG (sigla em inglês para os temas ambientais, sociais e de governança) no mercado financeiro vem crescendo desde o final dos anos 2000, com especial ênfase nos últimos três anos, segundo o The Global Sustainable Investment Alliance, o total de investimentos alocados em ESG, em 2019, era de US$ 30, 7 trilhões, 34% a mais do que o valor registrado em 2016.

  Em 2020, além de enfrentarmos as consequências da crise sanitária, observamos também uma sucessão de crises econômicas, ambientais, sociais e políticas e a preocupação em prevenir e preservar pode parecer secundária em um momento onde a maioria das empresas estão focadas na sobrevivência.

  Porém, mesmo que a preocupação seja se estabilizar, de modo algum podemos voltar ao “velho normal”, pois, em grande parte, ele é a causa das consequências trágicas que enfrentamos agora. Devemos continuar o crescimento dos investimentos alocados em sustentabilidade e incentivar novas ideias, afinal, para não gerarmos mais consequências negativas, mostra-se ainda mais necessário buscar maneiras alternativas e conscientes de se trabalhar, e isso vai desde a alocação de um servidor que use aquilo que chamamos de tecnologia verde (Green IT) ou até mesmo proporcionar para seus funcionários a opção de teletrabalho, preservando assim a saúde e diminuindo o desgaste ambiental, como aponta Ricardo Voltolini, CEO e fundador da consultoria Ideia Sustentável, o ser sustentável se tornou o novo normal competitivo.

  Contudo, para se obter junto aos stakeholders a desejada imagem de empresa responsável, é preciso muito mais que cumprir uma agenda ou apenas suas obrigações legais. Nos anos 70, temos uma revolução do pensamento de responsabilidade social, onde a relação empresa e sociedade ganha um novo conceito, a responsividade social (DE MACÊDO, 2013), esse termo indica que a empresa deve demonstrar uma espécie de proatividade socioambiental. Fazer o mínimo já não é motivos de aplausos, cada organização, porém, deve demonstrar sua diligência em agir e orientar seus esforços de forma a auxiliar o Estado a promover os direitos humanos e fundamentais e trabalhar ativamente para melhorar a vida da comunidade na qual está presente.

  Para exemplificar, podemos observar empresas como a Natura, que já apostava na responsividade social, agindo agora através de ações como se dedicar gradativamente a produzir apenas itens essenciais de higiene pessoal, além de álcool em gel e líquido, trabalhando com times reduzidos e também produzindo materiais como uma pesquisa interna sobre o trabalho remoto para entender as dores dos profissionais neste momento e endereçar suas necessidades. Além disso, a Natura &Co, grupo de beleza que engloba as marcas Avon, Natura, The Body e Aesop, anunciou um ambicioso plano de sustentabilidade com metas focadas em crise climática, proteção da Amazônia, defesa dos direitos humanos e garantia de igualdade e inclusão que deve envolver toda a sua rede até 2030. Esse exemplo deveria motivar as demais empresas a pensar em estratégias para se desenvolverem de forma sustentável, pois é isso que se espera delas, nas palavras de Roberto Marques, Presidente Executivo do Conselho e CEO do Grupo Natura &Co: “Entendemos o momento crítico em que vivemos e o papel que as empresas precisam desempenhar para se engajarem e se comprometerem com uma sociedade melhor, mais sustentável e mais inclusiva. Ainda precisamos fazer muito mais para ser a geração que restaura nosso planeta e protege seu povo”.  

  As soluções demonstradas pela Natura e tantas outras empresas, como a Youse, a Cielo ou a MD2, geram muito mais que uma visão externa positiva, como nos mostram Godói-de-Sousa, Nakata e Yokomizo (2009, p. 2), a sustentabilidade é uma via de mão dupla, onde organização e organizados são influenciados reciprocamente. Portanto, a visão responsiva acerca da sociedade deve estar presente em todos os níveis da hierarquia organizacional, segundo a Rede Brasil do Pacto Global em parceria com a Edelman, 94%  dos respondentes da pesquisa concordam que as corporações têm responsabilidade em ajudar o governo na crise mas que também deve ter como foco o bem estar de seus colaboradores.

  Devemos estar atentos para que apreensão e inflexibilidade não sejam as palavras que definem o clima organizacional atual de nossas organizações, a gestão de topo deve proporcionar um ambiente conscientizado e comprometido com a implementação de novos sistemas e estratégias voltadas para o bem estar de seus dependentes.  O “S” da sigla ESG é de extrema importância, o social está em foco, e ter uma cultura de avanço sustentável, inovador e tecnológico é o caminho para a perpetuidade.  

  Perpetuidade que se define como continuidade, não apenas da empresa no mercado competitivo, mas também das próximas gerações. Garantir essa continuidade exige ir além de ceder às pressões externas e cumprir obrigações legais, devemos, de forma responsiva, seguir enxergando as necessidades e colocando-as em um plano de ação, para então, usando dos recursos disponíveis, preservar a vida. Como Sartre pensa, ainda que sejamos livres, a liberdade leva o fardo da responsabilidade, e as empresas, com toda sua influência, são responsáveis por tudo aquilo com o qual interagem através de suas decisões.


 


 

Emanoely dos Santos Graduanda de Administração, 4º período.


Maysa Moraes de Araújo Graduanda de Contábeis, 4º período.


Referências:

VOLTOLINI, Ricardo. Como fica a sustentabilidade nas empresas depois que o vírus passar. 2020. Disponível em: https://neofeed.com.br/blog/home/como-fica-a-sustentabilidade-nas-empresas-depois-que-o-virus-passar/. Acesso em: 10 nov. 2020.

Y ÁLVARO DIAS, Sérgio Vicente. A RESPONSIVIDADE AMBIENTAL DAS EMPRESAS: ANÁLISE DAS PRESSÕES EXTERNAS E DOS BENEFÍCIOS ESTRATÉGICOS. SOLIDARI(E)DAD(E) - Revista Iberoamericana de Empresa Solidária, [s. l.], v. 1, n. 1, p. 65–81, 2018. Disponível em: https://institucional.us.es/asibeam/index.php/SOLIDARIDAD/article/view/15

DE MACÊDO, Nivea Marcela Marques Nascimento. Considerações acerca da Responsabilidade Social Empresarial: um estudo a partir de sua evolução histórica. Simpósio de Execelência em Gestão e tecnologia (SEGet), [s. l.], v. 10, 2013.

BITTENCOURT, Epaminondas; CARRIERI, Alexandre. Responsabilidade social: ideologia, poder e discurso na lógica empresarial. Revista de Administração de Empresas, [s. l.], 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0034-75902005000500001

NEGOCIOS, Santander. Como conscientizar seus funcionários a respeito da sustentabilidade. 2017. Disponível em: https://santandernegocioseempresas.com.br/app/empreendedorismo/como-conscientizar-seus-funcionarios-a-respeito-da-sustentabilidade. Acesso em: 10 nov. 2020.

CLICK, Green. Sustentabilidade na empresa começa com clima organizacional. In: CLICK, Green. Sustentabilidade na empresa começa com clima organizacional. [S. l.], 15 maio 2015. Disponível em: http://www.greenclick.com.br/sustentabilidade-na-empresa-comeca-com-clima-organizacional/. Acesso em: 8 nov. 2020.

COVID 19 Como as empresas estão lidando com a pandemia. 2020. Disponível em: https://www.edelman.com.br/estudos/covid-19-como-as-empresas-estao-lidando-com-a-pandemia. Acesso em: 15 nov. 2020.


SANTOS, Micaela et al. Coronavírus: como a Natura está enfrentando a pandemia. 2020. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Podcast/Negnews/noticia/2020/07/coronavirus-como-natura-esta-enfrentando-pandemia.html. Acesso em: 16 nov. 2020.


CONHEÇA as ações de 9 empresas para seus funcionários durante a pandemia de Covid-19. 2020. Disponível em: https://www.glassdoor.com.br/blog/conheca-as-acoes-de-9-empresas-para-seus-funcionarios-durante-a-pandemia-de-covid-19/. Acesso em: 16 nov. 2020.


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