quinta-feira, 23 de março de 2017

Nossa crise não é política nem econômica…é de gestão!

Prof. Luis Fumagalli.
Há tempos que o assunto dominante tem sido a crise pela qual o país se arrasta, sem alguma perspectiva que devolva a esperança para empresas e para as pessoas que delas dependem direta e indiretamente. A culpa, invariavelmente, recai sobre a economia e sobre o Governo (em todas as esferas), não necessariamente nesta ordem, já que é impossível dissociá-los não apenas pelo sistema de Governo, mas também desde o momento em que o Executivo, em especial, resolveu intervir e tentar controlar errônea e artificialmente princípios econômicos básicos que deveriam ser de domínio dos tomadores de decisão.

A culpa é do Governo! Bradam muitos. Mas a realidade nua e crua reside no fato de que a Administração, quer como profissão, quer como ciência, tem sido negligenciada historicamente no Brasil desde o seu descobrimento. O país formou, ao longo dos séculos, contingentes de advogados, médicos e engenheiros, então chamados de “doutores” em Portugal e aqui, por consequência. E durante todo este tempo acreditou-se que os dois últimos, em especial, seriam capazes de administrar instituições públicas e privadas de modo eficiente. Nada mais lógico, já que a Administração ainda é muito recente se comparada às demais ciências, isto quando é aceita como ciência pelos mais conservadores. É importante afirmar ao leitor, contudo, que não há alguma intenção em culpar estas nobres profissões pelo estado atual da nação e seria leviana qualquer tentativa em fazê-lo. Mas Administração é para o Administrador!

Segundo números do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Conselho Federal de Administração, há menos de um Administrador para cada 4 mil habitantes, enquanto nos EUA, por exemplo, têm-se um para cada mil. Além do número de Administradores formados ser insuficiente, há que se contestar ainda a qualidade da formação dos muitos dos 700 mil formados por aí. São muitas as instituições distribuidoras de diplomas, faculdades shopping-centers e outras cuja preocupação reside exclusivamente em obter o maior número de alunos atraídos por mensalidades de baixo custo. Associe-se a isso o fato ainda corriqueiro de alunos e até de professores que julgam que o curso de Administração é para quem não sabe o que quer e/ou que serve para qualquer coisa, já que o importante é o diploma superior.

O resultado aí está, e não é apenas no Governo. Tudo é sub administrado, como aliás já pontuava sabiamente o papa maior da Administração, Peter Drucker, em todo e qualquer tipo de organização brazuca, inclusive, em muitas das próprias escolas de negócios que deveriam estar se dedicando à formação de profissionais verdadeiramente capacitados e capazes de conduzir pessoas e organizações na construção de uma sociedade equilibrada e próspera, princípios estes que fazem parte do juramento do Administrador. A mortalidade precoce de cerca de 90% dos novos empreendimentos, um ou dois anos após a sua abertura, não é culpa de fatores exógenos ou da falta de sorte como muitos preferem crer. É a comprovação não apenas da falta de Administradores, mas de Administradores bons, para não dizer excelentes.


A educação precisa ser levada a sério, desde a tenra idade, não deveria pairar dúvidas sobre isso. Mas convencionou-se acreditar que ser empreendedor é um dom divino que independe de formação, que empresários são entes detentores de recursos financeiros ilimitados ou ainda que basta ter fé para que a providência divina opere seus milagres. Administração, para ser praticada em alto nível, depende de formação de excelência, em escolas e cursos tão bem preparados como os melhores centros formadores de Advogados, Médicos e Engenheiros. Só assim o Brasil deixará de ser o país do jeitinho, da gambiarra, da gaiatice e da corrupção, porque estará guiado por profissionais e não por incompetentes, paspalhos e farsantes.

Luis André Fumagalli é Doutor e Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Bacharel em Administração pela mesma instituição. Técnico em Eletrotécnica pelo CEFET-PR. Professor do Unicuritiba. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela participação!