quarta-feira, 6 de junho de 2018

A Guerra Comercial Entre Estados Unidos e China e Seus reflexos para a Economia Brasileira

Quando Michel Temer assumiu a Presidência da República a dois anos e compôs seu ministério com nomes medíocres em praticamente todas as áreas, apenas para satisfazer os partidos aliados e conseguir manter-se no poder, a única exceção e que mereceu elogios foi a sua equipe econômica. Contudo, no primeiro semestre de 2018 o responsável pela economia do país, Henrique Meirelles, abandonou seu posto para se aventurar como pré-candidato à Presidência da República. O competente Presidente da Petrobrás, Pedro Parente, renunciou ao cargo pressionado pela paralização do setor de transporte. 

E paralelamente aos nossos problemas econômicos e políticos internos, uma violenta Guerra Comercial entre as duas maiores potências econômicas mundiais está na iminência de implodir a economia global e afetar de forma drástica a economia brasileira.
Nesse sentido, alguns questionamentos sobre o assunto são inevitáveis: Uma Guerra Comercial? O que é isso?  Por que o aço e o alumínio? Por que nesse momento histórico?  E o que, nós brasileiros, podemos esperar dessa coisa toda?
O Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, aprontou mais uma ao anunciar uma sobretaxa de 25% sobre a importação de aço e de 10% sobre a de alumínio pelos Estados Unidos.
O Mandatário norte americano ainda colocou mais combustível no fogo ao utilizar as redes sociais e afirmar que uma guerra comercial é fácil de ganhar. A reação do mercado foi imediata, de forma negativa, e as bolsas sofreram quedas acentuadas ao redor do mundo.
“Foi um posicionamento um tanto inesperado, pois havia quem especulasse sobre uma “ certa” normalização do Governo Trump após sua participação no Fórum Econômico Mundial em Davos. Ele está agindo totalmente ao contrário da posição defendida pelos Estados Unidos naquela ocasião. “Ele agora está aplicando a opção mais dramática diretamente na largada”, diz Marcos Troyjo, economista e diplomata que dirige o BRIClab da Universidade de Columbia.
Medidas protecionistas sempre meteram medo em economias abertas e liberalizantes como a dos Estados Unidos, e sempre foi um ponto de preocupação das administrações anteriores. Mas com a administração Trump tudo é possível. E por que o aço e o alumínio, sobretudo o aço?  E por que agora?
“Trump escolheu aço e alumínio porque são commodities industriais que ele entende e com que se importa, e porque a produção de aço tem ressonância emocional em partes do Meio-Oeste”, afirma Ian Bremmer, Presidente da Eurásia, uma consultoria de risco político.
Ele afirma ainda que Wilbur Ross, o então Secretário de Comércio dos Estados Unidos, fez grandes investimentos no setor siderúrgico e que esse setor já tinha pronto a suas demandas por tarifas assim que Trump foi eleito e assumiu o poder naquele país.
Os papéis das siderúrgicas americanas estão disparando no mercado financeiro, enquanto os títulos dos fabricantes de cerveja e do setor automobilístico sofrem quedas significativas, pois preveem alta de preços em suas matérias-primas.
Especialistas da área econômica alertam para o risco de pressões inflacionárias em uma economia que já está superaquecida, além da represália de parceiros comerciais.
O Brasil destaca-se como um país duramente afetado por essa Guerra comercial, já que foi o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos durante os nove primeiros meses de 2017, atrás apenas do Canadá. A reação do Governo Brasileiro tem sido muito branda e morosa. O Ministério das Relações Exteriores, comandada pelo igualmente questionável Ministro Aloysio Nunes tem se mostrado, no mínimo, temeroso no enfrentamento do prélio.
A guerra Comercial entre Estados Unidos e China com relação ao aço e alumínio, e, por consequência atingiria outros tantos produtos, pode reduzir o crescimento do PIB brasileiro em 1,1% em 2019, afirma estudo do Banco Santander.
O Brasil corre o risco, em última análise, com a elevação de 25% na tarifa média imposta pelos Estados Unidos aos produtos chineses e a proporcional retaliação do País Asiático.
Se acontecer uma desaceleração do crescimento das economias Chinesa e Americana, afirma Adriana Dupita uma das autoras do estudo do Banco, o bolo global vai encolher. E afeta a economia mundial como um todo.
As projeções dos especialistas, sem uma guerra comercial, são de um crescimento para a economia brasileira de 3,2% tanto para 2018 como para 2019. Com a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, essa projeção cai para 2,8 para 2018 e 2,1 para 2019.
Contudo, apesar de relevante, essa queda não mudaria a rota de recuperação econômica do Brasil, segundo o estudo do referido Banco. As condições financeiras seriam a mais afetada, uma vez que é necessário levar em conta os índices de volatilidade do mercado financeiro internacional. Internamente o crescimento, ou a redução dele, afeta diretamente a taxa real de juros e o índice de confiança do consumidor.
Uma guerra comercial entre grandes potências leva a deterioração das condições financeiras internacionais e consequentemente aumenta o medo de riscos o que é prejudicial para os mercados emergentes como o Brasil e América Latina de forma geral.
O medo de se arriscar conduz ao aumento das taxas de juros internacionais e assim, os investidores fogem dos mercados emergentes e correm para papeis de menor risco, como os títulos do tesouro americano que oferecem risco zero.
O aumento em 25% nas tarifas bilaterais entre Estados Unidos e China, leva a economia global a uma assustadora desaceleração em 2018 de 1,3% e de 7,6% em 2019. O preço das commodities (leia-se minério de ferro e soja no caso brasileiro) pode cair em 2,5% em 2018 e 15% em 2019. Uma verdadeira tragédia para a balança comercial brasileira.
Uma disputa comercial dessa magnitude leva os produtos tarifados a um aumento de preços num primeiro momento, mas caem significativamente depois. A explicação é simples: O aumento dos preços tende a derrubar a competitividade e o volume das transações desses produtos em escala mundial, enfraquecendo, dessa forma, o comercio como um todo.
Definitivamente, essa guerra comercial não será benéfica para os exportadores brasileiros, assim como para América Latina de forma geral. A China (22%) e a Latino América (19%) juntas representam quase a metade das exportações brasileira.
Para cada ponto percentual de redução do crescimento da China, as exportações brasileiras perdem 3%. Pela combinação de menor preço e menor quantidade exportada.
Como as exportações representa apenas 12% na formação do PIB, a queda levaria a um impacto não muito relevante sobre o crescimento econômico brasileiro. Contudo, as autoridades econômicas brasileiras poderiam se posicionar de maneira mais intensa e agressiva nesse combate, uma vez que, qualquer ponto percentual de não crescimento ou mesmo de redução na nossa pouco sustentável economia representa muito para nosso empresariado e para o povo brasileiro de forma geral. Sobretudo, na geração de empregos - um dos piores indicadores da economia brasileira atual, que reflete a falta de investimentos tanto do governo quando do setor privado.

Prof. Semí Cavalcante de Oliveira – Economia Brasileira

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