Prof. Luis Fumagalli. |
Há tempos que o assunto dominante
tem sido a crise pela qual o país se arrasta, sem alguma perspectiva que
devolva a esperança para empresas e para as pessoas que delas dependem direta e
indiretamente. A culpa, invariavelmente, recai sobre a economia e sobre o
Governo (em todas as esferas), não necessariamente nesta ordem, já que é
impossível dissociá-los não apenas pelo sistema de Governo, mas também desde o
momento em que o Executivo, em especial, resolveu intervir e tentar controlar
errônea e artificialmente princípios econômicos básicos que deveriam ser de
domínio dos tomadores de decisão.
A culpa é do Governo! Bradam muitos. Mas a realidade nua e crua
reside no fato de que a Administração, quer como profissão, quer como ciência,
tem sido negligenciada historicamente no Brasil desde o seu descobrimento. O
país formou, ao longo dos séculos, contingentes de advogados, médicos e
engenheiros, então chamados de “doutores” em Portugal e aqui, por consequência.
E durante todo este tempo acreditou-se que os dois últimos, em especial, seriam
capazes de administrar instituições públicas e privadas de modo eficiente. Nada
mais lógico, já que a Administração ainda é muito recente se comparada às demais
ciências, isto quando é aceita como ciência pelos mais conservadores. É
importante afirmar ao leitor, contudo, que não há alguma intenção em culpar
estas nobres profissões pelo estado atual da nação e seria leviana qualquer
tentativa em fazê-lo. Mas Administração
é para o Administrador!
Segundo números do Ministério da
Ciência e Tecnologia e do Conselho Federal de Administração, há menos de um
Administrador para cada 4 mil habitantes, enquanto nos EUA, por exemplo, têm-se
um para cada mil. Além do número de Administradores formados ser insuficiente,
há que se contestar ainda a qualidade da formação dos muitos dos 700 mil
formados por aí. São muitas as instituições distribuidoras de diplomas,
faculdades shopping-centers e outras cuja preocupação reside exclusivamente em
obter o maior número de alunos atraídos por mensalidades de baixo custo.
Associe-se a isso o fato ainda corriqueiro de alunos e até de professores que
julgam que o curso de Administração é para quem não sabe o que quer e/ou que serve
para qualquer coisa, já que o importante é o diploma superior.
O resultado aí está, e não é
apenas no Governo. Tudo é sub administrado, como aliás já pontuava sabiamente o
papa maior da Administração, Peter Drucker, em todo e qualquer tipo de
organização brazuca, inclusive, em
muitas das próprias escolas de negócios que deveriam estar se dedicando à
formação de profissionais verdadeiramente capacitados e capazes de conduzir
pessoas e organizações na construção de uma sociedade equilibrada e próspera,
princípios estes que fazem parte do juramento do Administrador. A mortalidade
precoce de cerca de 90% dos novos empreendimentos, um ou dois anos após a sua
abertura, não é culpa de fatores exógenos ou da falta de sorte como muitos
preferem crer. É a comprovação não apenas da falta de Administradores, mas de
Administradores bons, para não dizer excelentes.
A educação precisa ser levada a
sério, desde a tenra idade, não deveria pairar dúvidas sobre isso. Mas
convencionou-se acreditar que ser empreendedor é um dom divino que independe de
formação, que empresários são entes detentores de recursos financeiros
ilimitados ou ainda que basta ter fé para que a providência divina opere seus
milagres. Administração, para ser praticada em alto nível, depende de formação
de excelência, em escolas e cursos tão bem preparados como os melhores centros
formadores de Advogados, Médicos e Engenheiros. Só assim o Brasil deixará de
ser o país do jeitinho, da gambiarra, da gaiatice e da corrupção, porque estará
guiado por profissionais e não por incompetentes, paspalhos e farsantes.
Luis André Fumagalli é Doutor e Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Bacharel em Administração pela mesma instituição. Técnico em Eletrotécnica pelo CEFET-PR. Professor do Unicuritiba.
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