A Lenda do Santo Graal (recipiente que supostamente conteve o sangue de
Jesus Cristo) foi, e ainda é, um tema instigante e controverso, sob o qual
muitos creem em sua existência e outros tantos a reputam como apenas mais uma
estória ainda persistente no imaginário das pessoas. Este recipiente tem sido,
ao longo dos séculos, procurado e jamais encontrado, resultando até no
sacrifício da vida de muitos dos seus perseguidores.
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Prof. Celso Valério Antunes |
A despeito se este
“cálice” seria ou não lendário ou fictício, podemos aproveitar a mensagem
contida nesta alegoria para auxiliar discorrer sobre uma questão que
atualmente, potencializado pela crise econômica que estamos enfrentando, tem
sido amplamente retomada e buscada pelas organizações: a detecção das reais
causas-raízes dos problemas, visando seu enfrentamento e posterior resolução
definitiva dos problemas.
Acerca da resolução de problemas, tanto no âmbito
pessoal como no organizacional, para que logre a maximização de resultados,
esta deve conter uma sequência mínima e lógica em sua abordagem, de forma a
garantir a eficácia das soluções propostas. Normalmente, a solução de problemas
organizacionais encerra uma complexidade muito superior àquelas de âmbito
pessoal, justamente por envolver várias áreas, processos e, consequentemente, pessoas
e egos. Para tanto, a abordagem de solução de problemas empresariais deve estar
embasada em uma lógica formal e metodológica, sendo que atualmente dispomos de
uma variada gama de metodologias voltadas a esta finalidade, tais como: MASP.
PDCA, 8D, A3, etc.
Contudo, tais metodologias apresentam um caráter
“ferramental” e se constituem em um “meio” para o atingimento de seus
resultados, e não um fim em si mesmas. Desta forma, não basta apenas ao gestor
promover ciclos de palestras e treinamentos empresariais focados em uma ou mais
destas metodologias, acreditando que seus profissionais estarão plenamente
capacitados ao término destas. Analogamente, seria como um caçador de tesouros
possuir todos os dispositivos e artefatos necessários para iniciar a sua busca,
sem ter dado ainda nenhum passo “para fora da porta” em busca de seu “Graal”.
Ao longo de minha carreira como consultor empresarial na área de processos, me
deparei constantemente com a necessidade de implantar a resolução de problemas
dentro das organizações nas quais estava atuando. Neste sentido, promovemos
ciclos de treinamento e palestras, voltados a gestores e colaboradores
envolvidos. Realizamos estudos “pilotos” em processos previamente escolhidos e
que apresentavam a mais variada gama de problemas. Analisamos criticamente os
resultados obtidos, seja ao longo da execução, como ao final dos trabalhos.
Atacamos os eventuais problemas remanescentes e, em todas as ocasiões,
finalizamos com sucesso estes processos.
Mas qual não foi a minha surpresa -
por vezes - em, depois de algum tempo, visitar novamente a organização e ser
surpreendido com a informação de que a empresa deixou de adotar esta ou outra
metodologia e que se via mergulhada em sucessivos problemas, sem capacidade
aparente de resolução dos mesmos, replicando o insucesso que muitos dos
perseguidores do Santo Graal lograram... Questionei quais seriam os aparentes
motivos que conduziriam a este fim e, dentre tantos, pude levantar: falta de
comprometimento gerencial, falta de capacitação de pessoal (técnica e
comportamental), falta de uma visão sistêmica, falta de abordagem por
processos, cultura organizacional, gestão de relacionamentos “frágil”, retenção
de informações “estratégicas” das áreas visando ocultar dados a fim de
preservar a exposição da má gestão, turnover alto, sem a efetiva capacitação
dos colaboradores repostos nas funções, etc.
Mais uma vez, analogamente, seria
como um explorador aventureiro que se lançasse à busca do “cálice”, sair sem um
planejamento que lhe mostrasse a direção a tomar e sem um dos principais
instrumentos, a bússola, que nos mostra a direção, confiando assim apenas em
seu “instinto”. De fato, muito do que as organizações consideram como resolução
de problemas constitui-se apenas em medidas contingenciais, que não agem na
detecção efetiva das causas-raízes – este sim o “Santo Graal” da resolução dos
problemas organizacionais.
O êxito na resolução de problemas baseia-se
principalmente em:
(1) Conhecer a fundo a metodologia aplicada;
(2) Exercitar
exaustivamente sobre problemas reais e, de preferência, com maior relevância,
urgência e grau de complexidade;
(3) ter efetivo apoio gerencial;
(4) Ser
inserido no gerenciamento da rotina das pessoas e, principalmente,
(5) Ser
estabelecido na cultura organizacional por meio de ações estratégicas.
Desta
forma, é possível perceber que o principal ponto focal para a resolução de
problemas reside nos profissionais envolvidos na resolução de problemas, pois
esta prescinde principalmente de uma mudança de crenças e valores dos gestores,
bem como uma consequente “transmissão” destas crenças e valores a seus
colaboradores, considerando todas as possibilidades e disponibilidades.
O santo
Graal é, até os dias de hoje, uma lenda (pelo menos até, quem sabe um dia, ser
encontrado). Porém a resolução efetiva dos problemas pela detecção das reais
causas-raízes, não o é, bastando para tal aliar as estratégias com: metodologia
correta, conhecimento técnico, forte apoio gerencial e, principalmente, crença
e vontade!
Prof. Celso Valério Antunes Professor do Curso de Administração do
Unicuritiba e Consultor na 3S Consultoria Empresarial.